Europa da
Idade Média com suas Peças "M.M.M.":
Durante a Idade Média o teatro quase
desapareceu da Europa, e só conseguiu ressurgir a partir da liturgia da Igreja.
No princípio do século XI o primeiro esboço foi o espetáculo do trovador. Este
criava versos e os declamava, e era geralmente acompanhado por um jogral que
tocava instrumento.
O que diz respeito ao teatro religioso,
iniciou com uma comunhão da Igreja e terminou numa festa comunal (segundo John
Gassner). Somente os homens podiam atuar, uma mulher seria um escândalo. Os
espetáculos na Inglaterra, França e outras nações européias eram interpretadas
no início dentro das igrejas, como os mistérios e os milagres, outros em geral
apresentados em espaços exteriores a ela, como as moralidades.
Para ter uma noção mais clara do universo
teatral
da época, Margot Berthold afirma:
“o teatro da Idade Média é tão
colorido, variado e cheio de vida e contrastes quanto os séculos que acompanha.
Dialoga com Deus e o diabo, apóia seu paraíso sobre quatro singelos pilares e
move todo o universo com um simples molinete.”
Embora
estas formas teatrais fossem muito mais desenvolvidas que os esboços dos
jograis, elas ainda apoiavam-se muito mais na linguagem gestual que na verbal
(salvo as moralidades) e, nos primeiros tempos, eram apresentados por membros
do clero, que falavam em
latim. Os fieis quando conseguiam participar, atuavam
apenas como figurantes. Pouco a pouco a situação foi modificando, os atores
passaram a ser gente do povo, o local de representar deixou de ser a igreja e a
língua passou a ser do país.
É
importante definir o temas que seguiam: "os mistérios", "os milagres"
e "as moralidades".
Os Mistérios
Também eram conhecidos como dramas litúrgicos, com o principal tema
festividades religiosas das Sagradas Escrituras da Bíblia (natal, paixão,
ressurreição etc.). Cada um deles era representado por uma corporação, fazendo
em um dia, os armeiros, por exemplo, a expulsão do paraíso; noutro; os padeiros
a última ceia; noutros os pescadores e marinheiros o dilúvio; e por ai adiante.
A ordem das cenas era desorganizada. No início da idade Moderna, a abusiva
mistura de litúrgico e do profano levou a Igreja a proibir os mistérios.
Os Milagres
Pode-se dizer que estas representações retratavam a vida dos servos de Deus (a
Virgem, os Santos etc.) não sofreram nenhuma alteração, o que acabou com seu
progressivo abandono. A Igreja defendia que as escrituras deveriam ser
representadas de maneira verídica diante do povo, dando assim pouca liberdade
para invenção.
As Moralidades
São
representações que se desenvolveram mais tarde que os dois gêneros acima.
Estavam repletas de ensinamentos cristãos, mas tinha um caráter mais
intelectual e em vez de utilizar personagens da Bíblia, serviam-se de figuras que
personificam defeitos, virtudes, acontecimentos e ações. As moralidades tinham
sempre intenção didática religiosa. Mostravam-se os bons exemplos que deveriam
ser seguidos e só muito raramente continham sátira ou pretendiam causar polêmica. A moralidade pode ser considerada um grande
passo em direção ao teatro moderno, já que o autor tinha autonomia para
desenvolver os assuntos, embora se mantendo dentro do tema principal destas
representações, a luta entre o bem e o mal existente na alma humana. Tinha a oportunidade
de analisar as qualidades e defeitos e dar relevo a determinas características
psicológicas das figuras.
"Everyman" (Todomundo)
Foi uma obra
prima entre as moralidades escrita no final do século XV, não sabe-se ao certo
quem foi seu autor.
Nela é narrada a forma pela qual o personagem "Todomundo",
em seu caminho rumo ao túmulo, é literalmente abandonado por todos os
companheiros “fiéis”, com exceção de Boas Ações, o único que aceita
acompanhá-lo ao tribunal de Deus e agir em favor dele. Nesta moralidade ele não
se resume a um único personagem. O mal é representado pelos vícios e defeitos
inerentes ao ser humano. São eles que afetam e prejudicam a vida de Todomundo.
Apego excessivo aos bens materiais, como também constante desobediência às leis
de Deus, fazem com que o personagem tema profundamente
seu julgamento divino. Esse vilão que se personifica nas figuras da Riqueza,
Beleza, etc... é no pensamento medieval a representação do mal que afeta o ser
humano e o leva a uma série de reflexões pertinentes a respeito de suas ações
durante a vida.
A simplicidade com que o tema é narrado acaba
aproximando a obra da platéia. Todo o julgamento de valores morais ocorre na
peça é de fácil entendimento. Espectador se identifica com Todomundo e passa a
temer o julgamento divino tanto quanto ele. Da mesma maneira que serão
observadas em inúmeras formas teatrais posteriores, o que a dramaturgia
medieval traduz do pensamento do período é uma exaltação da virtude e o repúdio
dos vícios de modo a possibilitar a redenção da alma humana.
Abaixo uma leitura aprofundada de "Todomundo"
feita por Aguinaldo Pereira
Everyman - PCC Performing Arts Center
(inglês)
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