O Teatro Nô
surge no Japão –
"A Desindividualização do Ator"
“A flor é a vida do Nô” (蓮の花)
A origem e evolução do Teatro Nô é a de uma
inter-relação constante, entre suas origens sagrada e profana. O zen budismo,
com a sua filosofia de vida espartana apresenta íntima relação, no Japão
feudal, com os shoguns militares e a vida dos samurais.
O período Muromachi, tendo os templos zens
como importantes centros de cultura, dá a expressão a uma notável cultura
nacional como no caso da cerimônia do chá, do ikebana e dos teatros Nô e
kyôgen. Artes nascidas da união da cultura aristocrática civil e da cultura
militar.
O Teatro Nô nasceu das apresentações cômicas
populares: "dengaku e sarugaku". O dengaku constituía-se de canções e
danças apresentadas pelos agricultores e sacerdotes durante os festivais
agrícolas dos arrozais augurando uma boa colheita. Por sua vez, o sarugaku era
uma espécie de farsa (cenas trivial ou burlesca, gracejos, situações cômicas,
ridículas etc.) da cidade, incluindo exibições com animais, saltimbancos e truques
de mágica.
(exemplo Dengaku)
(Dengaku)
(Sarugaku)
Certo momento da sua evolução o Teatro Nô
teve total apoio artístico e financeiro do shogun Yoshimitsu. Houve a transição
do sarugaku nô, teatro burlesco e popular, para o "nogaku", teatro
culto e elegante. O empreendimento de uma verdadeira revolução qualitativa
nesse até então de simples divertimento. O gradual refinamento artístico do Nô,
tinha a finalidade de agradar ao público das classes superiores.
O nogaku é constituído dos teatros nô e
kyogen. O kyogen, entretanto é cômico, reflexos dos sentimentos e modo de vida
do povo.
(Nôgaku)
(Nôgaku)
(algumas máscaras Kyogen)
(Kyogen)
(Kyogen: a comédia japonesa)
Durante o período Edo (1603 – 1866), o
Teatro Nô se torna uma arte cerimonial e filosofia oficial do shogunato
Tokugawa.
Com o estabelecimento de um critério inquestionável, a codificação do
Teatro Nô, e consequentemente, a possibilidade de perpetuar a arte, polindo as
suas técnicas até a perfeição, o Teatro Nô consolida-se em uma forma fixa, não
mais modificando até os dias de hoje.
“A flor é a vida do Nô”:
"aplicação da noção
de flor, hana (蓮の花), a todos os aspectos do Teatro Nô. A flor é a surpresa e a
novidade. No Teatro Nô, a flor é o insólito, o magnetismo despertado pela
atuação no palco; um jogo teatral produzido pelo ator, através da combinação de
beleza e mistério, visando a produção de uma emoção inesperada no espectador. A
técnica que se dá através do estudo dos dois elementos: o canto e a dança, e
dos personagens tipos de mímicas."
(cartaz de uma peça Nô)
A formação do ator Nô se processa de acordo com
a sua evolução etária; da infância à maturidade, o estudo conveniente a cada
idade. O ator considera sua profissão um ato sagrado, uma disciplina moral. As
essências das coisas a serem imitadas no Teatro Nô são denominadas yûgen e
tsuyoki. O yûgen possui um significado além das aparências como a sensação do
místico, o refinamento físico e espiritual, com ressonância no zen.
A compreensão do tsuyoki é o princípio da força
de atuação vigorosa até mesmo como uma árvore sem flor, mas que encerra grande
força interior.
E a veia principal da atuação é a confiança em
si, pois nada, nos dá mais força do que estarmos seguros de nós mesmos.
Na mímica do Teatro Nô verifica-se a eliminação
de todo elemento acessório, a redução ao essencial; não há expressões
fisionômicas, apenas um código gestual altamente estilizado e mesmo nas peças
sem uso de máscaras, o uso da própria face como máscara, isto é, a adoção do
rosto imóvel, inexpressivo. O ator de Nô tem sempre em mente o princípio básico
de que, quanto maior a contenção corporal, maior a liberdade do espírito. A
princípio, as técnicas do Nô na visão de Zeami deveriam ser secretas somente
passadas para pessoas capacitadas.
(quer saber mais sobre Zeami: CLIQUE AQUI)
Os textos das peças Nô, em escrita arcaica são bastante estilizada e feita com pincel, são compostos de uma mistura de prosa e
versos.
As primeiras apresentações teatrais japonesas,
como no Ocidente, eram realizadas ao ar livre, em pleno contato com a natureza.
Mais tarde, as apresentações foram transferidas para recintos religiosos,
depois para castelos.
O palco do Nô é um verdadeiro poema
arquitetural: conciso, simples e austero.
A cortina no fim da longa passarela,
separando-a da sala do espelho (vestiário), e os acessórios de palco. Palco e
passarelas elevados do solo, sugerindo um altar. Existe a parede de
fundo chamada “tábua de espelho”, que apresenta a pintura estilizada de um
enorme pinheiro, todo retorcido, representando o pinheiro sagrado Yogo, uma
árvore sagrada que os deuses desciam à terra. Passarela e palco fazem ser uma
apresentação tridimensional como no teatro grego (anfiteatro).
Os gestos e movimentos dos atores são bastante
estilizados, o vestuário do Nô é exuberante, mas não extravagante. As linhas e
ângulos retos do vestuário do Nô produzem uma silhueta rígida, adequada para a
representação de visões e fantasmas que existem em profusão nas peças do Nô. Esse
tipo de vestuário sofreu influências dos antigos trajes usados na corte pelos
samurais. Todo o espetáculo é ritualístico, por isso até mesmo um simples
pescador veste roupas solenes e fala grande poesia.
O uso da máscara no Nô é um parceiro de forças
ocultas da magia junto ao ator feitas de cipreste japonês, são ligeiramente
menores que o rosto humano, fazendo aparecer o queixo do ator. As aberturas
estreitas da máscara obstruem a visão do mundo exterior, forçando o ator a
voltar seus olhos para o mundo interior. As máscaras dos cegos, representadas
sempre com olhos cerrados. As máscaras se classificam conforme o seu uso e sua
função.
Veja no link abaixo a confecção da máscara Nô:
A máscara "koomote" era protótipo de beleza feminina japonesa e arquétipo
de máscara feminina jovem. A máscara masculina "chujo", apresente um requinte
sutil, duas faces distintas: a luminosa e a sombria. Mesmo em reproduções
bidimensionais, podemos verificar que, conforme as mudanças de posição, as
máscaras apresentam nuances sutis de expressão. Cada uma possui seu próprio
nível de distinção e qualidade, quanto mais bela mais difícil de ser
representada e elas que determinam a escolha do vestuário, dos acessórios e da
interpretação do papel.
(Koomote)
(Chujo)
(Chujo)
O processo de vestir-se para uma apresentação
de Nô corresponde o início da desindividualização do ator. Após vestir-se o
ator saúda a sua imagem no grande espelho em seguida saúda a máscara, um ato de
possessão, onde o ator perde completamente a sua individualidade e sente-se
transformado na personagem que irá interpretar.
O lugar onde ficam os músicos, repercute os
sons dos cantos, das músicas e das batidas dos pés dos atores. O coro possui
cerca de 10 pessoas, não tem voz própria, cantando apenas os sentimentos das
personagens. O Teatro Nô possui a música vocal (yôkyoku) e orquestra (hayashi).
O canto falado no Nô deriva de músicas executadas durante cerimônias budistas.
(vocal - yôkyoku)
(orquestra - hayashi)
A dança Nô é denominada shimai, pode
apresentar-se separadamente com ou sem máscara, com acompanhamento de um coro
menor. Durante as danças os deuses descem à terra, através do pinheiro Yogo,
pintado na parede de espelho e encarnam nos atores dando assim um clima todo
sobrenatural ao espetáculo.
(Shimai)
(uma apresentação de Nô)
Alguns
gestos são totalmente solenes, incompreensível aos leigos como é o
caso do choro na qual o ator apenas inclina ligeiramente a cabeça. Podemos
então considera o Nô um ideograma teatral.
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