Gil Vicente e o
Teatro Português
Teatro Português
Gil Vicente nasceu em 1465 e morreu no ano de 1537 em Portugal, deve ser cotado entre os maiores poetas do mundo do seu tempo e da
literatura de língua portuguesa, disputa o primeiro lugar com gigantes como Camões e Fernando Pessoa.
Viveu
durante um período onde Portugal atravessava grandes momentos que agitavam a
política portuguesa, o reinado de D. João II, a descoberta da costa africana, a
chegada de Vasco da Gama à Índia. No plano literário é contemporâneo de dois
eventos marcantes: a publicação de "Cancioneiro Geral",
representativa da poesia cortesã portuguesa do fim da Idade Média, ou seja,
estilo tradicional da poesia. O segundo evento foi a renovação do poeta Sá de
Miranda que trouxe à Portugal novidades renascentistas da Itália em
contraposição ao estilo Cancioneiro.
Muita dessa agitação colaborou a maneira
humorística e critica do teatro vicentino. Mesmo com a renovação do estilo
literário tomando força, Gil Vicente se mantém fiel ao estilo da Idade Média,
modelo teatral de auto e os versos redondilhos.
Gil Vicente foi muito apreciado pela corte,
com isso contribuiu para sua ampla critica social satirizando todas as camadas
da sociedade. O seu auto caracterizava pela amplitude temática, assim como pela
tendência, cada vez mais visível ao longo da evolução de suas peças, de
aumentar a população do palco, de ampliar a duração da ação (na representação) e de permitir-se a mais audaciosa justaposição de lugares. Além
disso, ele abre a cena a todas as classes sociais e pratica maiores liberdades
seja nas construções das situações, misturando elementos sérios e cômicos, seja
na linguagem, mesclando registro “elevado" com registro “baixo”.
A alegoria em suas peças corresponde a representação de uma ideia abstrata, um tipo social ou uma entidade espiritual
por meio da personagem seguindo tradições da era medieval, temas geralmente uma
sucessão de quadros que não se ligam por relação de causa efeito (como
sketches humorísticos). Em cada um dos quadros, as personagens representam
classes ou grupos sociais.
Gil Vicente também compôs narrativas, nas
quais se verificam, o desenvolvimento de um episódio em diversos quadros ou de
situações por relação causa efeito. Nas narrativas suas personagens são
realistas, mas ainda assim representando uma classe social.
A. J. Saraiva define o teatro vicentino em
três gêneros: o auto pastoril (monólogos ou diálogos de pastores), a moralidade
religiosa (alegórica, versando o tema da redenção, as narrações bíblicas ou de
vidas de santos, a fantasia alegórica, a farsa episódica) e o auto narrativo.
A crítica dele procede de uma perspectiva
desencantada sobre o presente, quanto de uma visão idealizada passada. Gil Vicente combate o formalismo religioso e
as práticas da Igreja, desde o obscurantismo a corrupção.
Seus personagens falam um português muito
variado (vulgar, culto, elegante, erudito etc.) e até latim de uso eclesiástico
ou jurídico, mas de uma forma humorística.
Todos os textos são rimados na qual jamais
aderiu o estilo renascentista e manteve-se fiel a medida da idade Média, com os
tradicionais redondilhos, sendo assim, notável poeta lírico.
(Auto da Barca do Inferno)
Gil Vicente é mundialmente conhecido
pelos seus AUTOS, como:
AUTO DA BARCA DO INFERNO
AUTO PASTORIL PORTUGUÊS
AUTO DA VISITAÇÃO
Devido a isso vou explicar um pouco mais sobre
o que seria esses autos.
o que seria esses autos.
AUTO:
TEATRO DE ESPÍRITO RELIGIOSO
(Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto)
Auto é uma
designação genérica para textos poéticos normalmente em redondilhas. Especialmente de caráter religioso, embora
existam obras de temática profana e satírica (as farsas), sempre com
preocupações moralizantes. Às vezes de alta profundidade crítica ou filosófica.
O mais antigo auto, conhecido, é o de
"Los Reyes Magos", talvez escrito no século XIII. Nos séculos XV e
XVI surgem os primeiros autores importantes, como os espanhóis Juán de Encina,
Lucas Fernández, que escreveu o "Auto de la Pasión", e "Lope de
Rueda".
Auto de "Los Reyes Magos"
Os autos começaram ligados às procissões de
Corpus Christi na Espanha, que contavam com a colaboração das autoridades civis
e tinham carros com motivos alegóricos inspirados em temas dos Evangelhos e da
história da igreja, percorrendo as principais ruas das cidades. Na capital, os
cortejos festivos eram encerrados pelo próprio rei e pelos homens da corte, que
seguiam a pé o Santíssimo, com cabeças descobertas e círios nas mãos. Os carros
transportavam atores imóveis, formando quadros vivos. Nos primeiros tempos
apareciam também figuras de gigantes e um monstro espantoso, espécie de dragão,
o Tarrasca. Elementos da tradição popular profana eram assim mesclados aos
componentes cristãos.
Ideologia
e espetáculo dos autos são uma forma particular de representação sacra e
constituem gênero literário típico da realidade ibérica. Impõem-se como arma da
Contra-Reforma e de análise escolástica do catolicismo. A alegoria e os
símbolos são amplamente utilizados, assim como personagens abstratos (a fé, a
alma, etc..). Os temas saem quase sempre da Bíblia ou da vida dos santos. Para o
espanhol Menéndez y Pelayo, o auto é o único tipo de teatro verdadeiramente
simbólico. As duas modalidades mais representadas foram os autos do nascimento
(sobre o nascimento do Cristo) e os autos sacramentais (sobre a Eucaristia).
No entanto, o grande nome do gênero nessa
época foi Gil Vicente, ator e autor, fundador do teatro português. Entre suas
numerosas peças há pastorais, tragicomédias, mas a maioria são autos como o
"Auto da Barca do Inferno". Pela crítica social e humana, Gil Vicente
transcende as finalidades do gênero. É visto, atualmente, como um dos antecessores
do teatro épico atual, pelo tipo de narração e de ousadia moral de suas peças.
Um dos autos mais famosos é o "Monólogo do Vaqueiro ou Auto da
Visitação".
Século XVII e adiante chamado
"Século de Ouro", quase todos os escritores dramáticos espanhóis
escrevem autos, agigantando-se o trabalho de Lope de Vega. Em sua obra imensa,
entre cerca de 400 autos, sobressaem "A Madrinha do Céu" e "O
Apicultor Divino".
(Lope de Vega)
Calderón de La Barca é o nome
máximo dos autos sacramentais. Requintou o gênero em termos de teatro e
literatura, imprimindo-lhe profundidade filosófica nunca antes atingida, aliada
a uma força poética poderosa e ao diálogo rebuscado, intelectualizado e
barroco, mas forte e conceituoso. Sacerdote aos cinqüenta anos, não deixou o
teatro: durante muito tempo foi o autor exclusivo dos autos sacramentais que se
representavam no dia de Corpus Christi em diversas cidades espanholas.
Modernamente, especialmente no
nordeste, encontramos textos notáveis que revelam certa influência medieval. É
o caso do "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna. O poeta Joaquim
Cardozo escreveu um belo auto de Natal, "De Uma Noite de Festa". Em
ambos é conservado o espírito religioso tradicional, mas os personagens são
popularizados e a tradição folclórica é aproveitada. Poderíamos também citar o
"Auto de Natal Pernambucano" (mais conhecido como "Morte e Vida
Severina") e "Auto do Frade", ambos de João Cabral de Melo Neto.
No campo da música popular, o "Auto da Catingueira", de Elomar
Figueira Melo.
(trecho do Auto da Catingueira - Dercio Marques)
"Morte e Vida Severina", é um
texto escrito em versos curtos, onde predomina a redondilha e diálogos entre
personagens. Daí resulta num texto propício a encenação do Auto ou a leitura em
voz alta. O espírito religioso se manifesta nos nomes de alguns personagens
(Maria, José, o carpinteiro) e na exaltação a vida, a partir do nascimento de
uma criança nos mangues de Recife. Aí esta a razão do subtítulo "Auto de
Natal Pernambucano".
(Morte e Vida Severina musical produzido pela TV Globo em 1981)
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