quarta-feira, 2 de abril de 2014

Teatro Para "Inglês Ver" - Kyd, Udall, Marlowe e Shakespeare

O Tradicional Chá das 5 da Rainha Elizabeth e o Teatro Inglês:

  Era extremamente propício o florescimento do teatro do fim do século XVI com a Inglaterra sob o reinado da Rainha Elizabeth.

(Elizabeth I, pintura de 1575)

   Nicholas Udall primeiro dramaturgo inglês, apresenta uma adaptação de peça escrita por Plauto. Nove anos mais tarde surge uma adaptação mais perfeita: trata-se da primeira tragédia em moldes clássicos apresentada em palco inglês e seus autores são Gorboduc de Thomas Sackville e Thomas Northon. Eles modificaram o tema de uma tragédia de Sêneca inserindo em sua temática na crônica dos reais anglo-saxônicos.
  Porém esse tipo de teatro clássico foi decaindo e deu abertura para um novo tipo de visão teatral surgindo assim o Teatro Elisabetano.
  Um teatro que possui formato circular ou poligonal, sem teto e de madeira. O palco avançava até o meio do edifício de tal forma que o público o cercava por três lados tendo boa visibilidade. Alguns destes tinham três níveis à afim de que várias cenas pudessem ser representadas simultaneamente, mas no seu início inspirado pelos circos da época, usavam locais improvisados e abertos como os pátios de hospedaria. 
(Clique AQUI para saber mais sobre o espaço cênico elisabetano)

(visão térrea do Palco Elisabetano)

(visão de cima)

  Os atores eram profissionais e recitavam no meio, não diante do público, tornado-se assim um participante do drama. A ausência de decoração e de efeitos especiais melhorava na concentração, na expressão gestual, mímica e verbal dos atores. Não existiam interrupções entre um ato e outro, já que era escassa de cenografia. O mobiliário e os objetos davam a localização da ação (um trono era a corte, uma mesa uma taverna, etc.) Um teatro muito popular, mas de má reputação.
  O teatro espanhol forneceu um grande acervo de obras para os dramaturgos ingleses, que muito com ele se parece: variedade de enredos históricos, novelísticos, patrióticos, cômicos, construção em atos. Alguns dramaturgos ingleses tiveram grande destaque no teatro dessa época: Thomas Kyd, Christopher Marlowe, Ben Jonson, William Shakespeare.
  Em geral, o autor inglês, não tinha a preocupação de buscar temas clássicos grego-latinos, como assuntos para suas peças, pois sabia que seu público estava interessado nos assuntos do seu país. Havia a fusão da tragédia e comédia e do novelesco. Suas representações envolviam todas as classes sociais, desde príncipes até camponeses mais humildes.
  A primeira obra teatral inglesa de importância foi escrita por Thomas Kyd “A Tragédia Espanhola”, misto de tragédia, de horrores e peça popular, a primeira tragédia de vingança. Thomas Kyd foi uma das figuras mais importantes do Teatro Elisabetano.


  Christopher Marlowe foi precursor de Shakespeare, autor de imensa obra dramática que pode ser bem representada pela citação de “O Judeu de Malta” (Clique AQUI para saber mais sobre o enredo) e também "Fausto", peça escrita em 1588 ou 1592, com base na história do Dr. Fausto, 1587, onde Fausto é o protagonista de uma popular lenda alemã de um pacto com o demônio. Essa história é baseada no médico, mago e alquimista alemão Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540).


(Christopher Marlowe)

  William Shakespeare revelou na suas obras uma talentosa fusão de influências clássicas, tradições medievais e no espírito de sua época, colocava o ser humano no centro dos acontecimentos. Teve o dom de captar com igual maestria as paixões mais turbulentas e os sentimentos mais puros, a mais rica alegria e o mais penoso desespero. Concebeu as tragédias mais sombrias e as situações mais cômicas, narrando-as com justeza de sua expressão e a magia do seu verbo. Exemplos como:

"Romeu & Julieta" personificação do amor irrealizado. 
"Otelo"protótipo do ciumento. 
"Macbeth"ambição e remorso. 
"Henrique VI"retrato inescrupuloso, mas divertido beberrão. 
"O Mercador de Veneza" usuário materialista por excelência. 
"Hamlet"o dilema do homem de intensa vida espiritual.

  William Shakespeare nasceu numa época privilegiada para o teatro, pois com a Renascença tudo estava acontecendo no campo da ciência e da tecnologia, aguçando a curiosidade do povo, e ao teatro coube o papel de satisfazê-la. Esse Teatro Elisabetano era a caixinha mágica do momento.


(William Shakespeare)

   A leitura de seus textos requer grande imaginação do leitor, porque não há interferência de um narrador que esclareça o que este ou aquele personagem possa estar pensando naquele momento, cada personagem fala da sua própria pessoa. Peças que cobrem anos tem locais variados e existem até dezenas de personagens. Shakespeare, então passou por ignorante literário e criminoso contra as boas maneiras, já que escrevia sobre toda espécie de gente e classes, com vocabulário condizente.
   Seus temas favoritos aparecem desde o inicio, mas o tratamento se aprofunda à medida que ele amadurece como pessoa e artista.
  Shakespeare viveu numa época de grande orgulho inglês, daí nasceu a “peça cômica”, contando a vida dos reis e heróis. A primeira trilogia foi com "Henrique VI" surgindo assim a “peça histórica” trazendo à trama do personagem a natureza do bom e mau governo.
  Já "Ricardo III", é o primeiro personagem que usa a convicção da época de que a deformação física reflete a corrupção moral.


(legendando)

   Com a “Megera Domada”, mostra o autor seguro com a comédia, o que traz personagens bem definidos pelo diálogo, tratando da ordem de casamento e família, com uma linguagem com menos rimas e mais fluente da vida real.


(inglês)

  "Sonho de Uma Noite de Verão" até hoje é representado, pois apresenta um dos poucos enredos originais do autor. Possui dois universos distintos: o casamento de Hermia e Lisandro e os artesões que ensaiam sua peça para a festa de casamento do duque e Helena e Demétrio. Historia passada na Grécia antiga, porém uma das peças mais inglesas de Shakespeare.



(inglês)

  A clássica história de "Romeu & Julieta", mostra a única tragédia lírica, baseada no poema de Arthur Brooke de 1559.


(inglês)


(inglês)



(Arthur Brooke)

  Houve uma época em que Shakespeare retorna às peças históricas da relação do governante com o poder como é o caso de “Rei João”, que lida com os conflitos bem x mal das moralidades para retratar os desmandos do reinado do chamado João sem Terra. “Ricardo II” indaga se é melhor um mau rei legitimo ou um bom rei usurpador.
   Meio a preocupações políticas em 1599, Shakespeare escreve  “As Alegres Comadres de Windsor”, escrita em duas semanas, única peça que se passa no cotidiano da classe média inglesa.
  Entre 1599 e 1608, escreveu sete tragédias, nas quais o tema é o mesmo: como o homem enfrenta o mal que sempre existe e o que o mal faz a ele. 
  “Julio César” foi o primeiro que fica no meio da peça histórica e trágica, de uma linguagem magistral, invoca a imaginação romana.


(espanhol)

  “Hamlet” a mais famosa, de linguagem rica, porém comedida referência de uma antiga saga nórdica, uma história de vingança, que se transforma numa investigação sobre a condição humana.


(espanhol)

  “Otelo”, o mal é também é externo e a tragédia expressa o horror que ele pode trazer a um homem  bom e integro. Shakespeare criou "Otelo" com uma dignidade, uma majestade a que nenhum de seus outros personagens protagonistas trágicos se iguala.

(inglês)

  “Macbeth”, aparece o personagem cindido, com o mal presente nele mesmo. Exemplar defensor do reino, heróico em batalha, pessoa dotada de virtudes, mas quando a ambição domina todas elas o único caminho é a destruição.



(inglês)

  “Rei Lear”, a última das quatros grandes tragédias, que vai da felicidade a infelicidade, incluindo a morte. Um dos personagens memoráveis nessa obra é o Bobo, que atua como consciência de Lear, com frases e versinhos de humor cortante e cruel.
   



Assim pensava Shakespeare:

“A finalidade de representar, tanto no princípio quanto agora, era e é oferecer um espelho à natureza; mostrar à virtude seus próprios traços, à infâmia sua própria imagem, e dar à própria época sua forma e aparência.” 
(HAMLET, Ato III, cena II)


Para saber mais detalhes das peças de Shakespeare leia, 



livro de Barbara Heliodora (1923-2015) crítica teatral especialista em Shakespeare. 


  Em 1659, começou o teatro inglês num período conhecido como o da “restauração”, e papéis femininos representados por homens travestidos foram substituídos por mulheres, algumas ficaram famosas como Nell Gwynn


(Nell Gwynn)

  Um teatro caracterizado pela alegria, destacando entre os autores dessa época Willian Congreve, George Farquhar e outros. Mas, também na restauração surgiram autores trágicos como John Dryden, Thomas Shadwell e outros. 

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