"A Terra
do Sol Nascente" e o
Teatro Bunraku (Bonecos) & Kabuki
O teatro Bunraku é constituído pela
associação de três elementos básicos e independentes, derivados de três
tradições de atuação diferentes: os bonecos operados por manipuladores
silenciosos, as palavras da narração e dos diálogos recitados e cantados pelos
narradores do Joruri e também o acompanhamento musical de shamisen (instrumento
musical de três cordas de origem egípcia).
Inicialmente, esses três elementos
originaram-se e desenvolveram-se separadamente, da qual cada um tendo sua
própria história. O Bunraku é o teatro japonês de bonecos para um público
adulto, tendo assim um drama sério, de alto nível artístico, sendo hoje
considerado o mais refinado do mundo. O início do teatro de bonecos se deu no
começo da civilização japonesa, quando as miko (sacerdotisas) de determinados
santuários xintoístas operavam bonecos simples, um em cada mão, representando
deuses ou princesas, enquanto recitavam orações. No folclore primitivo japonês,
os bonecos representavam deuses ou mensageiros dos deuses, que desciam à terra
para aplacar as calamidades por isso, tinha cunho religioso. Seus manipuladores
no começo eram denominados kairaishi (manipuladores de bonecos), levando uma
vida nômade de cigano, viajando de uma província a outra (lembra um pouco a
commedia dell´arte) em pequenas trupes, atuando como saltimbancos e as mulheres
maquiadas vendiam seu corpo foi por isso, que o teatro Bunraku foi ligado a
prostituição.
Começaram com temas religiosos o que depois
passou a ser puro entretenimento. Anos mais tarde se estabeleceram em alguns
lugares do país.
Surgiram os ebisu-kaki (“carregadores do
deus Ebisu”), manipuladores de bonecos que faziam apresentações sobre as lendas
de Ebusi-gami, um dos sete deuses da boa fortuna e da boa pesca. O palco deles
era uma caixa sustentada na altura do tronco, por meio de uma tira ao redor do
pescoço, e que funcionava como espécie de um palco suspenso. Os hotoke-mawashi
(“manipuladores de Buda”), mesma linha de atuação dos ebusi-kaki só que
conteúdo de moralidade budista.
(Ebisu-kaki)
(Ebisu)
O Bunraku foi criado pelo povo, os citadinos,
no inicio do período Edo (1600–1868).
Existiam dois tipos de manipulação: método tsukkomi (enfiar), método
katatezukai (manipulação com uma mão).
A cada ano os bonecos iam sendo aprimorados na
aparência física e ao longo da sua concepção foi ficando mais realistas, como as
sobrancelhas móveis. Por ser um teatro da massa, os dramaturgos unem esforços
na criação de novas peças, com uma redução das descrições líricas dos cenários,
aumentos de diálogos e o conteúdo dramático mais realista. Foi o auge em
relação ao realismo, mas ao mesmo tempo, a quebra do iluminismo dramático com a
presença de manipuladores, do narrado e do músico, atuando inteiramente à vista
do público.
(inglês)
(italiano)
Já a trajetória do Teatro Kabuki é dividido
em quatro partes distintas durante sua evolução:
Anos de Formação:
Deu-se início com a bela Okuni, miko do Grande Santuário de Izumo. Sob pretexto de
angariar fundos para o templo ela e seu grupo de lindas dançarinas vão a Kyoto para fazer apresentações de canções e danças budistas, presume que isso aconteceu por
volta de 1603.
Pela ideologia budista da época, era totalmente proibido
mulheres se apresentarem nos palcos japoneses, mesmo assim o grupo perambulava
em todas as províncias do Japão, solicitando colaboração do santuário, mas que
na realidade era um misto de apresentação de dança sensual e prostituição.
Grupos de atores de kyôgen (teatro cômico japonês) desempregados juntam-se ao grupo de Okuni, e as danças lascivas, acompanhadas
de baladas, passam a ser entremeadas por pequenos interlúdios cômicos
denominados saruwaka. Por fim eles acabaram transformando a dança religiosa
numa espécie de opereta. No início do século XVII, o Kabuki ganha sucesso
artístico e financeiro devido sua popularidade. O grupo de Okuni estimula novas
criações de outros grupos de mulheres e assim se espalhando por todo o Japão.
(estátua em homenagem a Okuni na margem do Rio Kamo em Kyoto)
Mas o apelo erótico de algumas peças Kabuki, a prostituição descarada de algumas atrizes, fez o estilo ser uma
afronta a moralidade da sociedade da época, levando o nome de yûjyo kabuki
(kabuki das prostitutas).
Kabuki de
Mocinhos (wakashu kabuki):
Após o grande sucesso do Kabuki de mulheres
mesmo sendo imoral, surge o novo Kabuki de Mocinhos, tem esse nome porque era um
teatro com danças executas por belos mocinhos, que eram especialistas em técnicas acrobáticas e familiarizados com o
kyôgen, tornando sucesso no final do século XVI. Os cabelos longos
cuidadosamente elaborados, a beleza vocal e facial, aliadas à sensualidade,
tornam-se essenciais aos integrantes desse Kabuki. E mais uma vez a história se
repete, de imenso sucesso, mas os rapazes nos quimonos travestidos de mulheres
acabavam por aprofundar o aspecto lascivo do Kabuki, exercendo um fascínio
irresistível sobre a platéia de admiradores masculinos e constituindo prelúdios
para a homossexualidade e a prostituição. De volta com a imoralidade o governo
militar decide fechar todos teatros kabukis e proibi a atuação de adolescentes
nos palcos.
(wakashu)
Kabuki de Homens Adultos
(yarô kabuki):
A história
do Teatro Kabuki como o teatro elisabetano, foi marcada pela repressão, exatamente
devido a sua grande popularidade junto às massas. A partir desse momento, como
na Inglaterra, todos os papéis no teatro Kabuki passam a ser interpretados por
homens, dando nascimento a instituição dos onnagata (atores especializados em
papéis femininos), uma tradição mantida até hoje.
(onnagata)
Durante a primeira fase do Kabuki adulto, desenvolvem-se dois tipos distintos de peças Kabuki:
o "keisei-kai", relacionado ao mundo dos artesões e o "tanzenroppô", que trata de
um lado mais arrojado da vida das cidades.
A política de isolamento nacional do Japão
vai tornar–se um dos fatores primordiais do desenvolvimento do Kabuki como
forma peculiar de teatro. Com o subsequente desenvolvimento do folclore,
dialetos regionais e diferenças culturais, surgem dois estilos fundamentais de
atuação no Kabuki, o aragoto e o wagoto.
Maruhon Kabuki:
Adaptação
de peças do Teatro Bunraku. Os papéis desempenhados pelos bonecos no Bunraku,
agora são substituídos pelos atores de Kabuki, que tiveram que desenvolver um
perfeito controle de seus corpos para imitá-los, uma linguagem corporal de
grande impacto emocional. Houve também assimilação da musicalidade, composição
e produção dos dramas, acentuando a tendência de estilização e a natureza de
drama musical. Essa arte dramática japonesa permaneceu até o fim do século XIX
como forma teatral dominante do Japão.
CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR
UMA PEÇA MARUHON KABUKI
Atualmente, os teatros de Kabuki são
construídos em estilo ocidental para facilitar a instalação de equipamentos,
mas ainda mantém características tradicionais como:
Hanamichi (rampa de passo-florido).
Além de ser a passagem que liga o fundo do teatro ao lado esquerdo do palco,
proporcionando o caminho para a entrada e a saída dos atores, é considerada
parte do palco principal, onde ocorrem algumas cenas mais importantes das
peças.
(Hanamichi)
(observe o pinheiro sagrado Yogo tradiconal do Teatro Nô)
(para saber mais sobre o teatro Nô, CLIQUE AQUI)
Mawari-butai (palco giratório). Inventado no
Japão há mais de 300 anos, serve para realizar mudanças rápidas de cenas sem
interromper a sequência do enredo.
(por dentro)
Outros aspectos o palco do Kabuki é
retangular e mais baixo do que os teatros ocidentais. As cortinas dos teatros
de Kabuki são em cores castanho avermelhado, preto e verde e não são puxadas
verticalmente e sim, lateralmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário