terça-feira, 8 de abril de 2014

Teatro Bunraku & Kabuki

"A Terra do Sol Nascente" e o 
Teatro Bunraku (Bonecos) & Kabuki


  O teatro Bunraku é constituído pela associação de três elementos básicos e independentes, derivados de três tradições de atuação diferentes: os bonecos operados por manipuladores silenciosos, as palavras da narração e dos diálogos recitados e cantados pelos narradores do Joruri e também o acompanhamento musical de shamisen (instrumento musical de três cordas de origem egípcia)


   Inicialmente, esses três elementos originaram-se e desenvolveram-se separadamente, da qual cada um tendo sua própria história. O Bunraku é o teatro japonês de bonecos para um público adulto, tendo assim um drama sério, de alto nível artístico, sendo hoje considerado o mais refinado do mundo. O início do teatro de bonecos se deu no começo da civilização japonesa, quando as miko (sacerdotisas) de determinados santuários xintoístas operavam bonecos simples, um em cada mão, representando deuses ou princesas, enquanto recitavam orações. No folclore primitivo japonês, os bonecos representavam deuses ou mensageiros dos deuses, que desciam à terra para aplacar as calamidades por isso, tinha cunho religioso. Seus manipuladores no começo eram denominados kairaishi (manipuladores de bonecos), levando uma vida nômade de cigano, viajando de uma província a outra (lembra um pouco a commedia dell´arte) em pequenas trupes, atuando como saltimbancos e as mulheres maquiadas vendiam seu corpo foi por isso, que o teatro Bunraku foi ligado a prostituição. 
   Começaram com temas religiosos o que depois passou a ser puro entretenimento. Anos mais tarde se estabeleceram em alguns lugares do país.
  Surgiram os ebisu-kaki (“carregadores do deus Ebisu”), manipuladores de bonecos que faziam apresentações sobre as lendas de Ebusi-gami, um dos sete deuses da boa fortuna e da boa pesca. O palco deles era uma caixa sustentada na altura do tronco, por meio de uma tira ao redor do pescoço, e que funcionava como espécie de um palco suspenso. Os hotoke-mawashi (“manipuladores de Buda”), mesma linha de atuação dos ebusi-kaki só que conteúdo de moralidade budista.

(Ebisu-kaki)

(Ebisu)

   O Bunraku foi criado pelo povo, os citadinos, no inicio do período Edo (1600–1868). Existiam dois tipos de manipulação: método tsukkomi (enfiar), método katatezukai (manipulação com uma mão).
   A cada ano os bonecos iam sendo aprimorados na aparência física e ao longo da sua concepção foi ficando mais realistas, como as sobrancelhas móveis. Por ser um teatro da massa, os dramaturgos unem esforços na criação de novas peças, com uma redução das descrições líricas dos cenários, aumentos de diálogos e o conteúdo dramático mais realista. Foi o auge em relação ao realismo, mas ao mesmo tempo, a quebra do iluminismo dramático com a presença de manipuladores, do narrado e do músico, atuando inteiramente à vista do público.

(inglês)

(italiano)

  Já a trajetória do Teatro Kabuki é dividido em quatro partes distintas durante sua evolução:
Anos de Formação: 

  Deu-se início com a bela Okuni, miko do Grande Santuário de Izumo. Sob pretexto de angariar fundos para o templo ela e seu grupo de lindas dançarinas vão a Kyoto para fazer apresentações de canções e danças budistas, presume que isso aconteceu por volta de 1603. 


  Pela ideologia budista da época, era totalmente proibido mulheres se apresentarem nos palcos japoneses, mesmo assim o grupo perambulava em todas as províncias do Japão, solicitando colaboração do santuário, mas que na realidade era um misto de apresentação de dança sensual e prostituição.
   Grupos de atores de kyôgen (teatro cômico japonês) desempregados juntam-se ao grupo de Okuni, e as danças lascivas, acompanhadas de baladas, passam a ser entremeadas por pequenos interlúdios cômicos denominados saruwaka. Por fim eles acabaram transformando a dança religiosa numa espécie de opereta. No início do século XVII, o Kabuki ganha sucesso artístico e financeiro devido sua popularidade. O grupo de Okuni estimula novas criações de outros grupos de mulheres e assim se espalhando por todo o Japão.

(estátua em homenagem a Okuni na margem do Rio Kamo em Kyoto)

  Mas o apelo erótico de algumas peças Kabuki, a prostituição descarada de algumas atrizes, fez o estilo ser uma afronta a moralidade da sociedade da época, levando o nome de yûjyo kabuki (kabuki das prostitutas).

Kabuki de Mocinhos (wakashu kabuki):

   Após o grande sucesso do Kabuki de mulheres mesmo sendo imoral, surge o novo Kabuki de Mocinhos, tem esse nome porque era um teatro com danças executas por belos mocinhos, que eram especialistas em técnicas acrobáticas e familiarizados com o kyôgen, tornando sucesso no final do século XVI. Os cabelos longos cuidadosamente elaborados, a beleza vocal e facial, aliadas à sensualidade, tornam-se essenciais aos integrantes desse Kabuki. E mais uma vez a história se repete, de imenso sucesso, mas os rapazes nos quimonos travestidos de mulheres acabavam por aprofundar o aspecto lascivo do Kabuki, exercendo um fascínio irresistível sobre a platéia de admiradores masculinos e constituindo prelúdios para a homossexualidade e a prostituição. De volta com a imoralidade o governo militar decide fechar todos teatros kabukis e proibi a atuação de adolescentes nos palcos.

(wakashu)

  Kabuki de Homens Adultos (yarô kabuki): 
  
   A história do Teatro Kabuki como o teatro elisabetano, foi marcada pela repressão, exatamente devido a sua grande popularidade junto às massas. A partir desse momento, como na Inglaterra, todos os papéis no teatro Kabuki passam a ser interpretados por homens, dando nascimento a instituição dos onnagata (atores especializados em papéis femininos), uma tradição mantida até hoje.

(onnagata)

   Durante a primeira fase do Kabuki adulto, desenvolvem-se dois tipos distintos de peças Kabuki: o "keisei-kai", relacionado ao mundo dos artesões e o "tanzenroppô", que trata de um lado mais arrojado da vida das cidades.
   A política de isolamento nacional do Japão vai tornar–se um dos fatores primordiais do desenvolvimento do Kabuki como forma peculiar de teatro. Com o subsequente desenvolvimento do folclore, dialetos regionais e diferenças culturais, surgem dois estilos fundamentais de atuação no Kabuki, o aragoto e o wagoto.

  Maruhon Kabuki:

  Adaptação de peças do Teatro Bunraku. Os papéis desempenhados pelos bonecos no Bunraku, agora são substituídos pelos atores de Kabuki, que tiveram que desenvolver um perfeito controle de seus corpos para imitá-los, uma linguagem corporal de grande impacto emocional. Houve também assimilação da musicalidade, composição e produção dos dramas, acentuando a tendência de estilização e a natureza de drama musical. Essa arte dramática japonesa permaneceu até o fim do século XIX como forma teatral dominante do Japão.

CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR 
UMA PEÇA MARUHON KABUKI




    Atualmente, os teatros de Kabuki são construídos em estilo ocidental para facilitar a instalação de equipamentos, mas ainda mantém características tradicionais como:
   Hanamichi (rampa de passo-florido). Além de ser a passagem que liga o fundo do teatro ao lado esquerdo do palco, proporcionando o caminho para a entrada e a saída dos atores, é considerada parte do palco principal, onde ocorrem algumas cenas mais importantes das peças.

 (Hanamichi)

(observe o pinheiro sagrado Yogo tradiconal do Teatro Nô)

(para saber mais sobre o teatro Nô, CLIQUE AQUI)

   Mawari-butai (palco giratório). Inventado no Japão há mais de 300 anos, serve para realizar mudanças rápidas de cenas sem interromper a sequência do enredo. 

 (por dentro)


   Outros aspectos o palco do Kabuki é retangular e mais baixo do que os teatros ocidentais. As cortinas dos teatros de Kabuki são em cores castanho avermelhado, preto e verde e não são puxadas verticalmente e sim, lateralmente.






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