sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O Teatro Oriental Indiano

Hey, meu povo, minha pova!
Já que comentei anteriormente sobre o início do teatro lá 
na Grécia, dedico agora esse post ao Teatro Oriental, muitas
vezes esquecida pela cultura ocidental. E nada melhor que
começar pela Índia, terra de tantos mistérios e riquezas
espirituais!
OBS: no final a reflexão de um grande mestre hindu sobre o teatro e 
também sobre a vida!


Drama Sânscrito Indiano - O Mergulho Espiritual:



   Teatro surgido entre os séculos IV e V. A ligação do teatro indiano com a dança é muito forte. Os temas se baseavam em histórias tiradas da épica hindu, como o "Mahabharata" e o "Ramayana".
  Na Índia encontramos uma única palavra para designar dança e teatro – "Natyashastra", o que equivale dizer que para o ator ou bailarino indiano não haveria a "priori" nenhuma distinção entre essas duas linguagens. Isto nos permite especular sobre o modo como as artes cênicas indianas compreenderam o fenômeno da representação em seus infinitos cruzamentos com outras formas de expressão, tais como a música, o canto, a dança, a pantomima e as artes marciais. Obra de arte total. Seria a própria diluição de tradições passadas onde essa indistinção entre o jogo cênico do ator e o jogo cênico do bailarino soaria indiferente.
    O Natyashastra possui uma origem que nos remete a era cristã. Todos os textos sagrados indianos denotam a importância do teatro na vida daquele povo. A arte da dança agrada os deuses; é uma expressão visível de homenagem dos homens aos deuses e de seu poder sobre os homens. Boa parte das tradicionais danças indianas remotam aos cultos e rituais sagrados que se tornariam seculares através dos ensinamentos dos mestres brâmanes e das sacerdotisas de Shiva as devadãsi. Esse tipo de dança serviu de modelo para muitas outras danças que se tornariam emblemáticas na cultura indiana.

(os livros sagrados)

   Em especial no teatro Kathakali uma linha inquebrantável entre a harmonia da dança presente nos mais diferentes artefatos visuais dos templos e palácios, com a métrica e a poesia da palavra cantada que é uma substancia peculiar ao teatro. Tantos os atores e os bailarinos exerciam com a mesma maestria a pantomima, a dança, o canto e as artes marciais.
   O teatro Kathakali e o teatro Therokothu, duas formas dramáticas ligadas ao universo cultural e popular da Índia, nos forneceu indicadores de um diálogo intercultural permanente entre o Ocidente-Oriente que acrescentou novas possibilidades formais para os encenadores modernos da Europa e dos EUA, como é o caso do britânico Peter Brook.

   Teatro Koodiyattan: é o mais antigo do teatro indiano. É o mais proeminente sobrevivente entre as formas contendo alguns elementos essenciais do conteúdo e as características estruturais de teatro sânscrito. Peritos o consideram mais avançado que o Kathakali. Sobrevive até os dias de hoje porque famílias têm mantido a tradição de uma maneira ortodoxa. Permite a participação das mulheres sendo tradicionalmente uma parte de templo rituais, realizada como uma espécie de sacrifício visual à divindade e é normalmente realizada em koothambalams ou templos teatro. Convencionais na maquiagem, costume bem como a forma, é uma elaborada mistura de gestos simbólicos e com diálogo e verso em sânscrito. Todos os personagens, promulgam o "Nirvahana", um recolhimento de acontecimentos passados na história, para formar um fundo para intensificar o futuro. O Koodiyattan recebeu da Unesco uma honra como patrimônio a ser protegido e preservado. Foi a primeira vez que ela tinha dado a honra em forma de arte “é um exemplo notável tradição à base de criação de uma comunidade cultural”.

(performance Koodiyattan)

(exemplo de um koothambalam)

   Teatro Therokothu: os atores, músicos e bailarinos – todos os homens, diga-se de passagem – se dedicam integralmente a este tipo de representação teatral no período dos festivais, entre os meses de novembro e abril. Existe um ator-narrador que cumpre o papel do mestre de cerimônias.
   Por ser o tipo de uma apresentação popular e sem grandes recursos cenográficos (o espaço cênico se define em um tablado onde se localizam os músicos que se revezam durante a encenação que pode ser a noite toda), o Therokothu se distancia bastante do Kathakali, uma arte que é mais refinada do ponto de vista da sua estrutura dramática.

   Teatro Kathakali: É o estilo de dança-teatral mais popular da Índia, além da mais rica forma. É exclusivo para homens, uma dança que recebe influências de antigas artes marciais de Kerala. É considerada nobre e sagrada, falada até hoje pelos brâmanes. Enquanto personagens deuses falam no dialeto aristocrático, as mulheres, escravos e personagens menores falam dialeto da classe baixa. As peças começam e terminam com uma prece. Não há valorização das expressões ou ações nas peças hindus. A tristeza é representada por uma leve melancolia. Beijar, comer, dormir ou gritar é indelicado. Havia um frequente contato entre a Terra e o Céu.
   Na Índia acredita que o palco é sagrado, local escolhido pelos deuses para que se dê a eterna luta entre o bem e o mal. No Kathakali tudo nele é cheio de significados religiosos e realizado como ritual. Por ser um ritual o palco é simples e antes de começar a peça o vocalista inicia uma canção invocatória acompanhado por címbalos e percussão. Durante essa iniciação um ator permanece por trás das cortinas realizando uma performance.


   A maquiagem determina a natureza dos personagens exemplo do verde que representa o herói. Existem três tipos de personagens Sattvik: nobre, heróico, generoso; Rajasik: pertence a classe dos demônios guerreiros; Tamasik: caçadores, moradores da floresta e demônios femininos. 


(o cuidado com o preparo da maquiagem)

   O ator bailarino no Kathakali também é um sacerdote e, por isso, deve ser capaz de responder cada aspecto da sua vida num equilíbrio constante de sua arte que é sempre regida harmoniosamente pelos elementos. A formação física obedece a antiga tradição dos guerreiros e artistas marciais de Kerala. Tamanha é complexidade e precisão na formação técnica do ator de Kathakali que inicia aos 08 anos de idade durante 8 anos de treino sob uma conduta militar.

(mais uma grande representação Kathakali)


(reparem nos olhos desse ator, fantástico)


"Por ser o Kathakali uma dança sagrada e ritual para os hindus, ela se torna uma ambiguidade por demais complexa para os ocidentais. O Ocidente não entende uma arte espiritual. É um povo adiantado materialmente, mas muito atrasado espiritualmente. O Teatro é uma manifestação da alma e por isso requer devoção e fervor, pois é necessário sempre mergulhar profundamente nas coisas às quais nos dedicamos. O Ocidente nos pede minerais, água, gases. Mas devemos escavar em busca de petróleo. Porque gases, minerais e água devem ser simplesmente a consequência dessa busca. É sempre na intenção do petróleo que devemos escavar o que almejamos. Se eu decidisse doar um milhão de rúpias a alguém, em notas de uma rúpia, eu precisaria de um milhão de notas. Mas se preferisse doar essa quantia em ouro, bastaria um pequeno pedaço e ele teria o mesmo milhão." 
(Agandanadam, velho sábio hindu)



5 comentários:

  1. Muito interessante e inspirador! A Arte Ocidental esta precisando se reinventar....Unindo o Oriente e o Ocidente nesta nova era

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    1. Pois é, Rodrigo...
      Eu torço para que a cultura e a arte volte a ser parte de projetos públicos de valor social, e não seja apenas, statua de celebridade!!!!

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  2. Muito interessante e inspirador! A Arte Ocidental esta precisando se reinventar....Unindo o Oriente e o Ocidente nesta nova era

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  3. Muito bem explicado esse texto 😁👏👏👏👏👏👏👏🍃🍃🍃

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