O "Teatro
Épico" e o
"Efeito de Estranhamento"
"Efeito de Estranhamento"
Bertold Brecht foi
poeta lírico, narrador e um grande autor alemão. Aos vinte e um anos
escreveu sua primeira obra "Baal"(1918). Na peça Brecht já penetra na
natureza crua do homem. A peça influenciada pelo expressionismo da época - já
caracteriza tangencialmente o que veio a ser toda a intensa produção do
vigoroso autor dos anos seguintes.
(Baal)
"Baal" é a história da vida de um poeta e
cantor bêbedo, rude e mulherengo. Com o seu amigo músico, Ekart, Baal perambula por toda parte bebendo e lutando. Engravidada por ele, Sophie segue-o e acaba
por se afogar. Baal seduz ainda a amante de Ekart que acaba por assassinar.
Perseguido pela polícia, morrerá sozinho numa floresta. Apesar de ser um
retrato anti-heróico, não há dúvida de que muito da imagem romântica do
poeta-fora-da-lei se aplica a este Baal cuja linguagem descende diretamente de
Rimbaud e Villon.
Baal aparece como resposta a “O SOLITÁRIO” (1917) de Hanns Johst, onde se relata a história do poeta alemão Grabbe dando-lhe um
significado expressionista contra o qual Brecht se quis insurgir. Inspirando-se
na vida do poeta francês, escritor medieval de baladas, François Villon, Brecht
pretende em Baal mostrar a natureza elementar do indivíduo que se alimenta do
prazer e não pensa sequer em pagar as despesas da vida burguesa. Mas ao longo
da escrita, Brecht encontra também Verlaine, Rimbaud e Büchner.
(Baal)
Com Baal,
Brecht revolta-se contra o fatos expressionista, contra os artistas endeusados,
contra o tradicional conflito, por ele repudiado, entre a vida e a arte. Brecht
procurava o escândalo e encontrou-o. Pouco depois da estréia, o presidente da
câmara de Leipzig proibiu a continuação da peça.
(alemão)
Brecht foi um dos nomes mais importantes do
teatro do século XX; é um dos teatrólogos mais encenados no mundo e dos mais
respeitados teóricos do teatro. Junto com o seu "efeito de
estranhamento" fez o espectador ser obrigado a assumir uma posição crítica
de julgar a ação representada.
Em 1929 iniciou a sua teoria do "Teatro
Épico", e quando o nazismo tomou conta da Alemanha se exilou em outros
países europeus. Acusado de atividades anti-americanas, foi forçado a voltar
para Alemanha, se fixando em Berlim Oriental, onde fundou sua própria
companhia, “O Berliner Ensemble”, que produziu suas últimas peças e foi um dos
teatros mais ativos da Alemanha , na segunda metade do século XX.
A sua teoria propunha uma representação
épica do teatro, que pretendia opor-se ao "teatro dramático", que -
segundo ele:
“conduz o espectador a uma ilusão
da realidade, reduzindo-lhe a percepção crítica.”
O referido "efeito de
estranhamento" tinha objetivo de estimular o senso crítico, tornando claro
os artifícios da representação cênica e destacando consequentemente o valor
revolucionário do texto.
Sua obra abarca o teatro, a poesia, o romance, o
ensaio a crítica teatral e o aforismo. O autor inovou ao utilizar temas do
mundo americano e da nova indústria de produção serial, foi audacioso no ritmo
e na secura de sua lírica.
Grandes obras
marcaram a força do teatro brechtiano:
"A Vida de Galileu" (1937), tem tudo
a ver com as grandes descobertas da ciência na virada do milênio e ainda pontua
muito bem a situação mito atual de um grande pesquisador obrigado a lançar mão
de aulas particulares, abandonando suas pesquisas, porque o governo não lhe
proporciona sequer o suficiente para comer.
(alemão)
"A Boa Alma de SetSuan" (1939), apresenta
uma visão da atualíssima corrupção generalizada que reina o sistema.
"A Santa Joana dos
Matadouros" (1929), com seu clima de sarcasmo generalizado, é outra obra que testemunha
a atualidade de Brecht. Potente na crítica, a peça mostra a sujeição de
absolutamente tudo ao motivo econômico e não poderia ser mais atual, na
apresentação fiel das emoções do mercado e das finanças.
Analisando com seriedade, a obra brechtiana vê-se de
cara que o autor será sempre atual ou, pelo menos - e isso talvez equivalha a
sempre - enquanto houver a exploração do homem pelo homem, a injustiça social,
a miséria e a violência do poder.
Sem dúvida a
obra-prima brechtiana ficou por conta da "A Ópera dos Três Vinténs" (1928).
Começou quando Brecht convidou Kurt Weill
escrever a música para o libreto de "A Ópera dos três Vinténs",
baseado numa tradução feita pela sua secretária Elisabeth Hauptmann, de "A
Ópera dos Mendigos", de John Gay (para saber mais sobre o estilo teatral de John Gay clique aqui) que havia feito um retrato satírico da
classe dominante inglesa.
Isso aconteceu porque Brecht recebeu a encomenda de
criar em cinco meses um espetáculo para abertura do Theater am Schiffbauerdamm
(hoje sede do Berliner Emsemble). A
oportunidade dependia de um texto que servisse às possibilidades daquele teatro
do século XIX, assim nascia a grande obra brechtiana. Nas palavras do autor
"um experimento em teatro épico".
"A Ópera dos Três Vinténs", em
síntese trata de um bando de mendigos que fundam uma empresa capitalista a fim
de melhor competir no mercado. A ironia é muita e cheia de severidade crítica que
alcança aspectos econômicos atuais. Uma aguda crítica política ao capitalismo
como veículo para sua visão vanguardista de teatro aonde foram usadas técnicas
dramáticas experimentais, como a "quarta parede" entre assistência e
os atores.
Inspirados no gênero opereta e comédia
musical, Brecht e o até então desconhecido Weill, contaram a história de Mackie
Messer e seu amor por Polly, a filha do inimigo J.J. Peauchum. Este, mais
conhecido por Rei dos Mendigos, vestia a gangue como deficientes ou mendigos e os mandava pedir esmolas. Mackie, por seu
lado, defendia uma linha mais dura, explorando assaltos e prostituição.
A estréia da peça de Brecht aconteceu 200
anos depois do sucesso de John Gay.
Tanto Brecht quanto Weill, não imaginavam o
sucesso que a "A Ópera dos Três Vinténs" faria no teatro alemão.
A gênese da obra é bastante complicada, pois
envolve uma das mais importantes parcerias do teatro musical do século XX.
Brecht "suspeitava politicamente" dos efeitos potencialmente
irracionais e sentimentais que a música podia causar, desejando que essa sempre
servisse às palavras por ele escritas.
Compositor e autor compartilhavam do desejo
de experimentar a possibilidade de tornar a ópera accessível e
"democrática", fugindo do wagnerismo, ainda latente na Alemanha das
primeiras décadas do século XX. A ópera, com suas fortes raízes do século XIX
era ainda o grande espetáculo da sociedade e a sua reforma a ópera épica
pareceu o veículo mais desafiador.
(Brecht e Weill)
(Wagner)
Neste formato a ópera tornou-se conhecida,
com a sua música cada vez mais associada à interpretação no estilo cabaré
berlinense, em gravações célebres que diferem do que está escrito na partitura,
e consequentemente, com Weill reduzido ao posto de "compositor de
Brecht".
Restabelecer o
desafio esta foi a proposta dessa montagem. Se a gênese da obra, em 1928,
estava ligada ao desejo de renovar a ópera ou buscar um novo entendimento de
seus conceitos, exercermos hoje a mesma liberdade ao rever um clássico.
Resumindo
esta ópera:
estamos diante de
uma obra desavergonhadamente materialista, de um cinismo e sátira que beiram a comédia,
constantemente chamando a atenção do ator e do espectador para a maneira como
as circunstâncias materiais determinam, ou ao menos condicionam o comportamento
humano, "O dinheiro controla o mundo" proclama a senhora Peachum.
Neste julgamento, temos o tema central da ópera: a ética da nossa sociedade,
espelhada na ética do crime organizado e da mendicância. A moral é um luxo com
a aquela o pobre não pode arcar. "Primeiro, vem a comida, depois a
moral" final do Ato II. Eis uma afirmação sobre moralidade que também é
uma afirmação de moral.
O nome da obra foi decidido poucos minutos antes de se abrir a
cortina. Apesar disso, o sucesso foi estrondoso, tanto na Alemanha como no
exterior – até 1933, quando os nazistas tiraram a peça de cartaz.
Em pouco tempo, números como a “Balada da Boa Vida”, que Mackie canta
na prisão, ou a Canção da Dependência Sexual, da "senhorita" Peachum,
adquiriram caráter popular. Além disso, Brecht conseguiu mexer com o público,
levando-o a refletir.
No final do segundo ato, por
exemplo, o elenco discute a condição humana: "Num mundo como este, o homem,
para sobreviver, tem de suprimir a sua humanidade e explorar o seu
semelhante".
Brecht criticava as
disparidades sociais da sua época:
"Quero fazer um teatro com funções sociais bem definidas. O palco
deve refletir a vida real. O público deve ser confrontado com o que se passa lá
fora para refletir como administrar melhor sua vida."
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