terça-feira, 8 de julho de 2014

O Teatro do Russo Anton Tchekhov

A Rússia Mostra ao Mundo O Quê Tem 
de Melhor No Teatro:


  Com certeza o grande representante do teatro russo é Anton Tchekhov que se consagrou como o mais ousado transgressor da tradição literária clássica e percussor das formas e da linguagem artística contemporânea.
    O tema dominante da sua primeira fase é definido como a ridicularizarão de que se considera "normal", ou seja, daquele "bom senso" vulgar e mercantil que rege e reina a vida corriqueira. Desde o início do trabalho literário, forma-se um traço muito peculiar da poética tchekhoviana: uma total economia de meios artísticos, ou seja, a especifica "avareza" verbal que obriga o autor a cortar cada palavra supérflua, cada frase escassa para atingir um alto grau de condensação formal.
   O escritor mergulha na vida cotidiana cheia de fatos miúdos para captar através deles o essencial e o eterno da existência humana.  A novela "Estepe", uma de suas obras primas, reflete uma imagem da infinita planície usa e seus tipos humanos, tudo recriado pelo prisma da percepção infantil do seu personagem principal; um garoto Iegóruchka, que faz uma longa viagem para estudar, acompanhado de seu tio e de um pobre. Uma história sobre os acontecimentos marcantes da juventude que transformam a vida e determinam os rumos do nosso destino.
  Nuno Martins no seu blog (http://oqueeuleio.blogspot.com.br/2011/05/estepe-anton-tchekhov.html)  fez uma resenha bem interessante sobre “A Estepe”:

“Terminei hoje de ler hoje mais um "pequeno grande livro" que é este "A Estepe" do escritor russo Anton Tchékhov. Antón Tchékov é a par de Dostoievski, Tolstoi e Gogol um dos maiores escritores russos, mas que ficou mais conhecido devido aos seus contos e às suas peças de teatro. "A Estepe", não é um conto, mas também não é um romance, é um pequeno livro que nos traz a estória do jovem Iegoruchka que juntamente com o seu tio Ivan Ivanytch Kuzmitchoff, com o padre Cristóvão Siriiski e o cocheiro Deniska e depois noutra fase com um grupo de trabalhadores rurais que conduziam um comboio de carruagens a cavalo com mercadorias para vender faz uma viagem pela estepe russa.
O jovem Iegoruchka, filho da irmã viuva de Kuzmitchoff, acompanha-o mais ao padre Siriiski numa viagem de negócios que ambos fazem para vender lã a uma grande cidade, para depois ficar nessa cidade entregue a uma amiga da sua mãe e entrar num liceu para estudar e assim atravessando a grande estepe russa pela primeira vez. Nessa viagem Iegoruchka fica impressionado com o ambiente e paisagem à sua volta que lhe desperta curiosidade, passando por aldeias, campos, moinhos e estalagens, conhecendo também outras pessoas que nunca antes tinha visto. 
A certa altura devido a negócios o tio de Iegoruchka tem de fazer um desvio para encontrar um rico senhor a quem lhe vai vender mercadorias e entrega o rapaz a um grupo que ia integrado num comboio carruagens a cavalo que se dirigiam para a cidade. Nesse grupo Iegoruckha conhece várias pessoas, com várias idades e feitios e conhece o que é a vida dura do campo e da estepe, continua a passar por várias povoações, enfrenta uma tempestade até que chega ao destino e se junta novamente ao seu tio e ao padre, para logo de seguida ficar entregue aos cuidados da amiga de sua mãe enquanto estiver a estudar nessa cidade. Tchékhov, com esta pequena estória e através dos olhos de um jovem, faz mais uma vez um retrato fiel e cru da realidade russa da sua época,  retrata a vida difícil dos mais pobres e a grande riqueza dos mais ricos, mas ao mesmo tempo mostra-nos a grande beleza e imensidão da estepe russa, a vida selvagem e as adversidades que sofre quem lá vive e trabalha, sendo a estepe na realidade a personagem principal nesta estória. 
Esta viagem é também para o jovem Iegoruckha uma espécie de ritual de passagem da adolescência para a vida adulta, em que ele de momento para outro deixa de ser uma criança protegida pela sua mãe e tio para se desenvencilhar sozinho numa grande cidade onde não conhece ninguém. Lê-se extremamente bem este livro, (li a edição da coleção "Não Nobel" do jornal Público), tem uma linguagem acessível, é pequeno e apenas os nomes das pessoas é que são mais difíceis de ler. Gostei bastante”.


   Tchekhov acreditava que a culpa estava dentro da própria natureza humana e não nas condições sociais injustas do mundo.


  Seu talento amadurecido se concentra cada vez mais na em recriação de sutilezas da interioridade "fluida e contraditória" do ser humano. O poeta do cotidiano.
  Tchekhov não se achava dono da verdade, nunca sugere soluções de problemas tão difíceis da vida, por isso, muitas obras não têm desfecho, terminam em reticências, como o fluxo natural da vida. Acredita que a liberdade da interpretação de texto é o privilégio sagrado de cada leitor, participante ativo no ato da criação. 
    Dizia: "confio inteiramente no leitor, supondo, que ele próprio vai acrescentar os elementos subjetivos que faltam ao conto". Suas obras ficam ligadas com a eternidade da vida. Um grande exemplo é de seus contos mais líricos é "A Dama do Cachorrinho".


  É difícil encontrar em suas peças componentes obrigatórios do enredo do drama: ponto de partida, conflito, culminância, desfecho. O credo de Tchekhov encontra-se na "importância das coisas não importantes": por detrás das banalidades e trivialidades do cotidiano, há um mundo de conflitos trágicos. Suas peças sempre têm final aberto.      Tchekhov foi o primeiro a mostrar no palco o drama da própria vida - da vida "regular, plana, comum, tal como ela é na realidade".
   No teatro de Tchekhov a ação é movida pelas pausas, silêncios, mudanças do estado de espírito, ou melhor, pela "corrente submarina", tudo aquilo que cria no espectador a sensação de que ele assiste no palco ao fluxo da vida.
   Nas suas peças existe algo mais importante de que os planos de acontecimento, algo que estabelece a ligação entre o cotidiano da vida humana e a eternidade: o tempo. O dramaturgo irrompe no tempo teatral para abrir a ação dramática à eternidade da vida. Como a importância, por exemplo, das estações do ano para o desenvolvimento da ação de "As Três Irmãs".





  Na tessitura dramática do drama, sempre entrelaçam dois planos - o plano da vida cotidiana e o plano da vida espiritual que Tchekhov considera essencial. Para ele a vida do homem que não é iluminada pela busca da verdade e da beleza, não tem sentido.
   Uma obra de Tchekhov de grande destaque foi "A Gaivota".
  "A Gaivota" é uma metáfora disto mesmo por oposição de Treplev (personagem), o escritor novo, incompreendido e original, a Trigorine, o escritor tradicional, que se movimenta nas correntes artísticas conhecidas e é reconhecido. A desgraça e o desfecho previsivelmente trágico do primeiro face à opulência aparentemente plena da qualidade literária do segundo são mote para uma comédia de costumes, que é no fundo um drama.


   Para além da concepção teatral, há também a oposição entre a representação clássica e um novo método que viria a ser estabelecido pelo Teatro de Arte de Moscou. Arkadina mãe de Treplev, representa um teatro ultrapassado, mas que ainda assim subsiste com sucesso, enquanto Nina é a vontade de representar mal compreendida pelos valores vigentes. Tanto ela como Treplev são ainda sugados pelo ambiente rural que os impede de dar o salto convenientemente.
   Tchekhov é mestre em criar atmosfera do vazio. Nada se passa, nada se pensa, nada se pode nesta vida de província, pequenina, retrógrada, alimentadora do estabelecido que lhe chega da cidade. Ambiente onde cheira a inércia.
   A estréia de "A Gaivota" foi um fiasco, mas no final da temporada, a peça já era um êxito e acabaria por se tornar o emblema do Teatro de Arte de Moscou de Constatin Stanislaviski e companhia.


   Já a obra "O Jardim das Cerejeiras", foi à última peça escrita por Tchekhov que é caracterizada como uma comédia com alguns elementos de farsa.


    A peça conta a história de uma mulher aristocrática da Rússia e sua família e de como após eles retornarem à propriedade da família (que inclui um grande e bem conhecido jardim de cerejeiras) vê-se obrigada a vender a casa para pagar a hipoteca. Embora a peça demonstre como opção salvar a propriedade, a família, essencialmente, não faz nada e a peça termina com a propriedade vendida ao filho de um ex-servo, e com a família ouvindo o som do jardim de cerejeiras ser derrubado.



    Stanisláviski definiu muito bem o sentido essencial da obra do escritor:

"Tchekhov apresenta-se inesgotável, porque, apesar de aparente descrição da vida trivial, em seu leitmotiv (motivo condutor) principal, ou seja, espiritual, ele sempre fala sobre Humano com maiúscula".


(um belo documentário)




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