segunda-feira, 14 de julho de 2014

O Teatro Norte-Americano "Dá Um Boom"

O Estados Unidos Ocupa Seu Espaço 
no Teatro Mundial de 1930 a 1960:


   No final do século XIX, as companhias americanas já haviam alcançado um nível de qualidade que permitia as várias delas fazer excursões pela Inglaterra e outros países da Europa.
  A atividade teatral já era tanta, a essa época, que foi fundada uma firma chamada Syndicate, dedicada a planejar temporadas nas grandes cidades e excursões pelos países. Acabaram estabelecendo um virtual monopólio teatral, pois controlavam salas, pautas e atores.
   É no século XX, no entanto, que o teatro americano afirma-se como manifestação de uma cultura independente. O teatro desde o final do século XIX, tornar-se uma profissão, exercida por um número grande de americanos, e desde 1886 os técnicos de palco já tinha seu sindicato. O sindicato dos atores, chamado Actors´Equity, data de 1913, regendo termos de contratos e condições de trabalho com mão férrea.
  Um momento marcante para a dramaturgia norte-americana foi com a fundação do grupo chamado Provincetown Players, que, a partir de 1920, começou a montar as peças de Eugene O´Nell, abrindo caminho para uma dramaturgia artística e intelectualmente mais ambiciosa, com características de um nova cultura.


Eugene Gladstone O'Neill nasceu em 1888 e foi um dramaturgo anarquista e socialista estadunidense. Recebeu o Nobel de Literatura de 1936 e o Prêmio Pulitzer por várias vezes.
 Suas peças estão entre as primeiras a introduzir as técnicas do realismo influenciado principalmente por Anton Chekhov, Henrik Ibsen e August Strindberg. Sua dramaturgia envolve personagens que habitam as margens da sociedade, com seu comportamento desregrado, tentando manter inalcançáveis aspirações e esperanças do 'milagre norte-americano'.
  Todas as suas peças desenvolvem graus de tragédia pessoal e pessimismo. Sua dramaturgia influenciou reconhecidamente um importante dramaturgo brasileiro: Nelson Rodrigues.
  Nasceu em um hotel na Broadway e seu pai, James O'Neill sendo um ator irlandês, fez Eugene viajar desde criança com ele, sua mãe e com o irmão mais velho, na turnê do pai por todo os Estados Unidos e portanto conheceu o teatro desde muito cedo. 

(Eugene O'Neill)
  
  Porém, o Catolicismo irlandês do pai e o misticismo da mãe, Ellen Quinlan, criaram uma confusão na cabeça dele em relação a Deus e à religião, característica que se transcendeu para suas obras.
   O'Neill, que não tinha qualquer vontade de cursar a faculdade, não conseguia ficar muito tempo no mesmo trabalho, chegou até a fazer as malas e partir para Honduras à procura de ouro.
   O pai dele o fez assistente administrativo do elenco de sua companhia de teatro e viajaram juntos de St. Louis, Missouri até Boston. Eugene, que não se interessava muito pelo trabalho recém adquirido, aproveitou o fim da viagem e se aventurou em sua primeira viagem pelo mar.
   As viagens como marinheiro até a América do Sul e África (65 dias em um navio norueguês de Boston até Buenos Aires) possibilitou contato com desertores, exilados e marginais de todo tipo que auxiliaram na formação de seu caráter.
  Permaneceu muito tempo totalmente sem recursos vivendo como desabrigado e alcoólatra num bairro próximo ao porto de Buenos Aires e mesmo na própria praia.
   Aos 23 anos de idade as coisas começaram a dar certo em sua vida. Entrou para o elenco de seu pai em uma pequena peça entre 1911 e 1912 e trabalhou por quase seis meses como repórter no New London Telegraph" em que escreveu poemas (em sua maioria satíricos).
   Após uma tentativa de suicídio em 1912 O'Neill permaneceu cinco meses em um sanatório para tratar de tuberculose.
   No Sanatório leu Ibsen, Strindberg, Nietzsche e Dostoiévski compulsivamente e sentiu que escrever era o que queria fazer pelo resto de sua vida. Pela primeira sentiu o prazer de impulso que o levou a escrever peças e trabalhar artisticamente as experiências vividas até então. Após sua saída em 1913, em um período de 15 meses escreveu onze peças de um ato, dois dramas e alguns poemas.

(Eugene O'Neill e a 3º e última esposa atriz Carlotta Monterey)

   Com o seu drama "Além do Horizonte", foi consagrado com o Prêmio Pulitzer em 1920. Foi o primeiro dramaturgo estadunidense a receber o Nobel de Literatura (1936), pela força, verdade e sentimentos profundos que trouxe à sua obra dramática ao encarnar uma ideia própria de tragédia.
  "Além do Horizonte" foi escrita em 1918, durante a I Guerra Mundial. Embora não mencione a guerra, os personagens de sua peça, marinheiros, comerciantes e agricultores, foram grandemente afetados por ela.



    O drama marcou o século 20 nos Estados Unidos, uma longa história literária que trata de trágicos acontecimentos, resultado da falha ou defeito de algum personagem, remontando assim o desempenho dos gregos antigos.


  Cada um dos personagens tem sonhos: Ruth sonha em ter um marido, James sonha em ter uma fazenda maior e espera que seu filho, Andy, se case com Ruth para que possam assumir a propriedade.
   No entanto, os sonhos mais opostos são de Robert e Andy. Robert é um poeta romântico, e sonha ir "além do horizonte" para experimentar o mundo, Andy, sonha em se casar e assumir a fazenda do pai.

(trecho - inglês)

   "Além do Horizonte" explora o que acontece quando dois homens se apaixonam pela mesma mulher, e a diferença entre os compromissos que assumirão com ela.



   Mais uma vez e sempre, O’Neill se refere em suas peças personagens internamente despedaçados que tentam através de auto-enganação e embriagues fugir da responsabilidade sobre suas vidas. Com realismo radical expõe o abismo de suas personagens, que sobrevivem de culpas recalcadas, sentimentos falsos e resignação e que se envolvem em lutas sem sentindo uns com os outros.
   Na obra "Electra Enlutada" (1931), Eugene O´Neil faz um paralelo da sua obra com os clássicos gregos. Abaixo Keka Bittencourt esclarece esse:

Na trilogia Electra Enlutada, Eugene O'Neill, traz uma nova proposta de como apresentar a peça grega, em uma versão totalmente readaptada para o seu século.
Se, na tragédia grega podíamos ver o destino se concretizando, aqui, podemos observar o homem fazendo seu próprio destino por vontade própria, não dos deuses.
O'Neill consegue fazer um misto de épocas, utilizando, por exemplo, a arquitetura da casa, utilizada como cenário, grega, e com aspectos como detalhes no mesmo, modernos.
 O que pode ser facilmente apontado é a psicologia dos personagens de O'Neill. Os seus personagens têm vontades, medos, receios e ressentimentos, todos eles sendo trazidos à tona durante o desenrolar do espetáculo.
O quadro familiar se apresenta desmanchado, exatamente como era na época do período da guerra, nos EUA. Ezra Mannon, o chefe da família, tem constante aparência zangada, é frio e tem mágoas com sua esposa Christine, por tratar sua amada filha Lavínia mal.
Oris (Orestes), foi praticamente forçado pelo pai a ir pra guerra, o que fez sua mãe, Christine, ficar com grande ressentimento com Ezra, pois mãe e filho eram muito próximos.


Adam Brant é o grande 'vilão', pois se envolve emocionalmente com Christine, e da consequência dessa relação, é que realmente nasce o ódio e a sede de vingança entre os Mannon.
    Lavínia, a Electra, se apresenta uma mulher de ações, forte, aparência soberana. Amarga e estranha, ela decide com convicção vingar a morte do seu pai, sem tripudiar.
Com este breve resumo sobre as características dos personagens, é perceptível o quanto O'Neill quis mostrar a psicologia na sua peça.
Pode-se dizer que em "Electra Enlutada" há um complexo de Édipo, pós Freud. O pai que ama filha, e filha que ama o pai. A mãe que ama o filho, e filho que ama a mãe. 
Seus personagens são montados em uma psicanálise no privado.
E o mais interessante nessa personagem Electra, é que, assim como nos tempos de tragédia grega, ela mesma aceita seu destino de enfrentar os fantasmas do passado, se autojulgando de suas ações.
E é nesse misto de antiguidade trazida para a modernidade que Eugene O'Neill ajuda a fundar a dramaturgia norte-americana”.


Clique abaixo:
(filme completo - inglês)


   Já a obra mais próxima da sua vida pessoal, é “Longa Jornada Noite Adentro” onde a estréia só foi liberada muito tempo após sua morte, conforme previu seu testamento.


   O enredo acontece na Nova Inglaterra, 1912, na casa de verão dos Tyrone. O patriarca da família, James Tyrone, é um homem idoso que há muito tempo abandonou as aspirações de ser um grande ator, escolhendo viajar todos os anos apresentando a mesma peça. Sua esposa, Mary, se tornou viciada em morfina, com pouco ou nenhum contato com a realidade desde o nascimento do filho mais novo. O casal tem dois filhos: o mais velho, Jamie, é um ator fracassado que foi "forçado" a seguir os passos do pai e assim se tornou um alcoólatra. Jamie tem inveja do talento do irmão mais novo, Edmund, que quer ser escritor, mas sua carreira pode ser abreviada por estar com tuberculose. A jornada de um longo dia termina numa noite infernal, na qual os três homens da família se embriagam enquanto Mary ensadecidamente fala como se fosse jovem, quando era bem mais feliz. Ele conseguiu passar ao papel uma auto-imagem através do personagem Edmund, em um mundo sem sentido e imponderável.

(inglês)

    Diagnosticado com parkinson e neurose, reduziu drasticamente sua vasta obra a quase nada, pouco antes de sua morte. Morreu em 1953 em um hotel em Boston, vítima de tuberculose. Dito: 

"Nasci num quarto de hotel e, maldito, morri num quarto de hotel".



   A década de 1930 teve dois movimentos importantes, que mostram os americanos engajados em teatro político. Rooselvelt, eleito presidente do país em 1932, foi muito original ao se lembrar das artes em seu grande projeto do New Deal.

(Presidente Rooselvelt)

    Foi com o nome de Federal Theatre Project que o movimento foi criado, dentro do plano de estímulo ao emprego, porém ele ficou muito mais conhecido como Living Newspaper, a forma dramática exercida pelo grupo, que, a partir de um tom de documentário, colocava em cena problemas específicos, para os quais reclamava ações igualmente específicas.


   Os espetáculos tratavam temas como moradia, saúde, sindicalização, serviços públicos, problemas raciais e temas fora dos EUA, como "Etiópia", contando sobre a invasão italiana naquele país e o resultado foi um espetáculo bem sucedido. Com grupos em várias cidades, o Living Newspaper durou, em certos locais, até a década de 1950, porém o Partido Republicano vetou no Congresso, o uso de verbas federais para as artes.




(Negro Repertory Unit)

   Mais comprometido com a descoberta de uma interpretação realista americana calcada no teatro de Arte de Moscou com ideias de Stanislavski, e também influenciado pelas ideais de um teatro político, foi o Group Theatre fundado em 1931 por  por Harold Clurman, Cheryl Crawford e Lee Strasberg.


   Lee Stranberg que jamais aceitou a preocupação com formas exteriores, explorou para sempre a composição interior de Stanislavski, que usou largamente quando fundou o famoso "método" do Actors'  Studio.



   Stella Adler, por seu lado, tornou-se inimiga mortal de Stranberg e fundou sua própria escola, na qual defendia o que lhe parecia ser o verdadeiro Stanislávski. A escola Stella Adler tem prestígio praticamente tão alto quanto o do Actor´s Studio.


   O teatro profissional americano se afirmou cada vez mais com um repertório variado; porém, é curioso lembrar que só na década de 1940 seus atores que queriam ser levados a sério deixaram de usar sotaque inglês; nessa década o teatro floresce com produções impecáveis e um número cada vez maior de autores voltados para seu próprio país. 
    A safra de autores de comédias de costume foi farta e brilhante, um bom exemplo é "Nossa Vida com Papai", obras baseada nas memórias do escritor Clarence Day.


   Não foi só de comédia, porém, que se enriqueceu a Broadway; na década de 1940 é que despontam dois dos maiores nomes do teatro americano do século XX, Arthur Miller e Tennesse Williams.
    Miller sempre escreve sobre problemas que afetam a sociedade americana, e logo a seguir ele cria "A Morte do Caixeiro-Viajante", muitas vezes remontada e com versões tanto para o cinema quanto para a televisão, uma das grandes peças da dramaturgia mundial.



   A obra-prima de Miller no entanto, só chega em 1953, depois de ele haver sido perseguido pela Comissão de Atividades Antiamericanas do Senado McCarthy. A peça, que lida justamente com o fanatismo e o preconceito, é uma obra rara, pois põe em jogo o clima do macartismo, sem cair no pessoal ou no vingativo: "The Crucible" (As Feiticeiras de Salém) é sem dúvida uma das mais importantes obras de todo o século XX, publicada com um prefácio exemplar sobre as consequências do fanatismo em suas várias manifestações.


(inglês)

(Arthur Miller e Marilyn Monroe)

   Tennesse Williams ficou sempre no plano das relações interpessoais, moldadas em todo os casos pela presença constante da pretensiosa e decadente sociedade do sul dos Estados Unidos. Está sempre pesando sobre seus personagens e postura saudosista em relação à uma época de luxos e lazer sustentados pelo regime escravocrata. 
   O tom lírico de várias de suas peças bem como uma constante ênfase sobre sexo, ainda rara na época, deram-lhe lugar de destaque no quadro da dramaturgia americana.
   O seu primeiro sucesso na Broadway foi em 1945 com "Algemas de Cristal", uma de suas mais consagradas obras. "Um Bonde Chamado Desejo", que estreou em 1947, é definitivamente sua obra-prima. Williams escreveu uma série de sucessos, todos com mesmo clima denso e ameaçador.


(inglês)

   "Um Bonde Chamado Desejo" é o retrato de uma sociedade decadente, personificada por Blanche DuBois, uma bela mulher que volta para a casa da irmã por não ter mais para onde ir. À beira da loucura, traumatizada e sofrida, ela entra em confronto com o mundo rude e viril do cunhado, Stanley Kowalski. Essa tensão, estabelecida entre o refinamento e a brutalidade, mostra uma família em ruínas num mundo conflituado, sem lugar para o amor e para a sensibilidade.






   As décadas de 1940 a 1960 foram, sem dúvida, a idade de ouro da dramaturgia séria norte-americana. 
   Na década de 1960 aparece um novo autor de impacto, Edward Albee, que estreou com a ótima peça em um ato "História do Jardim Zoológico", mas atingiu seu maior sucesso com "Quem tem Medo de Virgínia Wolf". 

"Escrita em 1959, a peça de Edward Albee “A história do zoológico” é das primeiras obras dramáticas a enfocar a solidão e a violência como produtos das grandes cidades e da estratificação social. Em um parque, um americano medianamente bem-sucedido (a obra é clamorosamente americana) está gozando o seu mediano prazer de ler um livro sentado em um banco, quando um fracassado e excluído americano aparece e provoca um diálogo que é, na verdade, uma tentativa perseverante e implacável de estabelecer um contato que derrube as barreiras entre os dois. Peter, o bem integrado no american way of life , recebe a ingerência de Jerry em seu tranqüilo domingo. A cortesia e pseudo-humor do primeiro não escondem sua convicção de superioridade social, econômica e cultural, sem se dar conta que é justamente essa suposta superioridade que alimenta o violento ressentimento em Jerry. O encontro é desigual, com Peter a recorrer a seus valores rotineiros, decorados, e Jerry, sem nada a perder, tendo como único objetivo a destruição dessas defesas que o outro recebe de seu grupo social, uma verdade suprema que jamais examina." (Barbara Heliodora) 


  Em "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", trata de George um professor universitário, e Martha, sua esposa que é também filha do reitor, recebem no final da noite Nick, um jovem professor, e Honey , sua mulher. À medida que a noite avança, as confissões entre os quatro se tornam mais ácidas e a verdade se torna algo muito deprimente.
   Autor desigual, Albee se preocupa, por vezes, com um grande requinte verbal, em prejuízo da ação dramática; mas, entre sucessos e fracassos, ele é, sem dúvida, um autor significativo.



(Edward Albee)

   "West Side Story" de Lehman também é uma bem-sucedida peça de teatro, estreada em 1957 na Broadway, de autoria de Arthur Laurents. A peça teatral, é uma adaptação livre, ambientada de "Romeu & Julieta", de William Shakespeare. À semelhança do que acontece na peça "Romeu & Julieta" de Shakespeare, apresenta Tony, antigo líder da gangue de brancos anglo-saxônicos chamados de Jets, apaixonado por María, irmã do líder da gangue rival, os Sharks, formada por imigrantes porto-riquenhos. O amor do casal protagonista floresce entre o ódio e a briga das duas gangues e seus códigos de honras, tal qual a desavença histórica entre os Capuletto e os Montechio mostrada em "Romeu & Julieta".





  Fenômeno da maior importância no teatro americano do século XXfoi o aparecimento do movimento chamado off-Broadway, na verdade uma proveitosa alternativa para os custos cada vez maiores para a encenação de espetáculos na Broadway, em grande parte devido a exigências sindicais.
  O segredo da off-Broadway foi um acordo com os vários sindicatos ligados à atividade teatral, que abriram mão de uma série de exigências para espetáculos apresentados em teatro que acolhessem, no máximo, 199 espectadores. O nome nasceu do fato de locais pequenos terem sido buscados longe do consagrado central teatral, porém, o problema não são os endereços, e sim, o tamanho da platéia.



   Foi criada toda uma atividade alternativa, em que era possível experimentar, arriscar e revelar novos autores, e que enriqueceu o panorama um tanto desgastado do teatro americano. Grandes sucessos desses pequenos teatros, como "Hair" o mais memorável exemplo, acabaram sendo transferidos para a Broadway, para atender à demanda de público, uma vez que o sucesso do espetáculo já estava comprovado.



   A música sempre foi parte importante do teatro, e o musical pertence à mesma família da ópera, pois tanto no primeiro quanto na segunda os personagens existem dentro de um ambiente específico, no qual a música é determinante, tanto para o aspecto dramático quanto para a conceituação estética. Não podemos esquecer que a palavra, a música e a dança sempre estiveram juntas nos rituais e folguedos das mais primitivas culturas.
   O musical não é uma peça como qualquer outra durante a qual algumas pessoas cantam; o musical é uma forma de arte diferente e independente. No musical, a música, como a dança, se esse for o caso, são partes integrantes, essenciais, da obra, do mesmo modo que na ópera.
   Nas primeiras décadas do século XX já apareceu um número grande de obras americanas no gênero, e aos poucos as canções foram se integrando cada vez mais na trama. Logo aparecem compositores quase que exclusivamente dedicados ao gênero, e podemos usar como exemplo Oscar Hammestein II, que sozinho escreveu letra e música para "A Canção do Deserto" em 1925 e, no ano seguinte, marcou época fazendo o mesmo para um dos maiores sucessos da história do teatro norte-americano: "Showboat", em que todas as famosíssimas canções realmente são parte integrante do processo de fazer caminhar a ação dramática.




   George Gershwin, que durante anos, junto com Ira, seu irmão letrista, fez canções para o riquíssimo Teatro de Revista de Lorezen Ziegfeld, viu montado, em 1935, seu "Porgy and Bess", já descrito como "ópera popular", que hoje em dia faz parte do repertório de várias casas de ópera tanto européias quanto americanas.





    Mencionado anteriormente, "Hair" foi o primeiro musical rock, teve um grande sucesso e até hoje é representada. Outro sucesso norte americano foi "A Chorus Line" um musical sobre dançarinos da Broadway que participam da seleção por um lugar na linha de coro de um novo musical. Com dezenove personagens principais, toda a história se passa num palco nu de um teatro nova-iorquino. 




  A trama oferece um vislumbre das personalidades dos bailarinos e do diretor e coreógrafo do show, à medida que eles descrevem os eventos que moldaram suas vidas e as decisões que os fizeram tornarem-se dançarinos. Esse espetáculo musical é o que esteve há mais tempo no palco.



   O sucesso desse tipo de mega espetáculo é tamanho que vem dominando tanto a Broadway quanto o seu equivalente londrino o West End, em prejuízo do teatro chamado "de prosa", isto é, aquele que é só falado.

terça-feira, 8 de julho de 2014

O Teatro do Russo Anton Tchekhov

A Rússia Mostra ao Mundo O Quê Tem 
de Melhor No Teatro:


  Com certeza o grande representante do teatro russo é Anton Tchekhov que se consagrou como o mais ousado transgressor da tradição literária clássica e percussor das formas e da linguagem artística contemporânea.
    O tema dominante da sua primeira fase é definido como a ridicularizarão de que se considera "normal", ou seja, daquele "bom senso" vulgar e mercantil que rege e reina a vida corriqueira. Desde o início do trabalho literário, forma-se um traço muito peculiar da poética tchekhoviana: uma total economia de meios artísticos, ou seja, a especifica "avareza" verbal que obriga o autor a cortar cada palavra supérflua, cada frase escassa para atingir um alto grau de condensação formal.
   O escritor mergulha na vida cotidiana cheia de fatos miúdos para captar através deles o essencial e o eterno da existência humana.  A novela "Estepe", uma de suas obras primas, reflete uma imagem da infinita planície usa e seus tipos humanos, tudo recriado pelo prisma da percepção infantil do seu personagem principal; um garoto Iegóruchka, que faz uma longa viagem para estudar, acompanhado de seu tio e de um pobre. Uma história sobre os acontecimentos marcantes da juventude que transformam a vida e determinam os rumos do nosso destino.
  Nuno Martins no seu blog (http://oqueeuleio.blogspot.com.br/2011/05/estepe-anton-tchekhov.html)  fez uma resenha bem interessante sobre “A Estepe”:

“Terminei hoje de ler hoje mais um "pequeno grande livro" que é este "A Estepe" do escritor russo Anton Tchékhov. Antón Tchékov é a par de Dostoievski, Tolstoi e Gogol um dos maiores escritores russos, mas que ficou mais conhecido devido aos seus contos e às suas peças de teatro. "A Estepe", não é um conto, mas também não é um romance, é um pequeno livro que nos traz a estória do jovem Iegoruchka que juntamente com o seu tio Ivan Ivanytch Kuzmitchoff, com o padre Cristóvão Siriiski e o cocheiro Deniska e depois noutra fase com um grupo de trabalhadores rurais que conduziam um comboio de carruagens a cavalo com mercadorias para vender faz uma viagem pela estepe russa.
O jovem Iegoruchka, filho da irmã viuva de Kuzmitchoff, acompanha-o mais ao padre Siriiski numa viagem de negócios que ambos fazem para vender lã a uma grande cidade, para depois ficar nessa cidade entregue a uma amiga da sua mãe e entrar num liceu para estudar e assim atravessando a grande estepe russa pela primeira vez. Nessa viagem Iegoruchka fica impressionado com o ambiente e paisagem à sua volta que lhe desperta curiosidade, passando por aldeias, campos, moinhos e estalagens, conhecendo também outras pessoas que nunca antes tinha visto. 
A certa altura devido a negócios o tio de Iegoruchka tem de fazer um desvio para encontrar um rico senhor a quem lhe vai vender mercadorias e entrega o rapaz a um grupo que ia integrado num comboio carruagens a cavalo que se dirigiam para a cidade. Nesse grupo Iegoruckha conhece várias pessoas, com várias idades e feitios e conhece o que é a vida dura do campo e da estepe, continua a passar por várias povoações, enfrenta uma tempestade até que chega ao destino e se junta novamente ao seu tio e ao padre, para logo de seguida ficar entregue aos cuidados da amiga de sua mãe enquanto estiver a estudar nessa cidade. Tchékhov, com esta pequena estória e através dos olhos de um jovem, faz mais uma vez um retrato fiel e cru da realidade russa da sua época,  retrata a vida difícil dos mais pobres e a grande riqueza dos mais ricos, mas ao mesmo tempo mostra-nos a grande beleza e imensidão da estepe russa, a vida selvagem e as adversidades que sofre quem lá vive e trabalha, sendo a estepe na realidade a personagem principal nesta estória. 
Esta viagem é também para o jovem Iegoruckha uma espécie de ritual de passagem da adolescência para a vida adulta, em que ele de momento para outro deixa de ser uma criança protegida pela sua mãe e tio para se desenvencilhar sozinho numa grande cidade onde não conhece ninguém. Lê-se extremamente bem este livro, (li a edição da coleção "Não Nobel" do jornal Público), tem uma linguagem acessível, é pequeno e apenas os nomes das pessoas é que são mais difíceis de ler. Gostei bastante”.


   Tchekhov acreditava que a culpa estava dentro da própria natureza humana e não nas condições sociais injustas do mundo.


  Seu talento amadurecido se concentra cada vez mais na em recriação de sutilezas da interioridade "fluida e contraditória" do ser humano. O poeta do cotidiano.
  Tchekhov não se achava dono da verdade, nunca sugere soluções de problemas tão difíceis da vida, por isso, muitas obras não têm desfecho, terminam em reticências, como o fluxo natural da vida. Acredita que a liberdade da interpretação de texto é o privilégio sagrado de cada leitor, participante ativo no ato da criação. 
    Dizia: "confio inteiramente no leitor, supondo, que ele próprio vai acrescentar os elementos subjetivos que faltam ao conto". Suas obras ficam ligadas com a eternidade da vida. Um grande exemplo é de seus contos mais líricos é "A Dama do Cachorrinho".


  É difícil encontrar em suas peças componentes obrigatórios do enredo do drama: ponto de partida, conflito, culminância, desfecho. O credo de Tchekhov encontra-se na "importância das coisas não importantes": por detrás das banalidades e trivialidades do cotidiano, há um mundo de conflitos trágicos. Suas peças sempre têm final aberto.      Tchekhov foi o primeiro a mostrar no palco o drama da própria vida - da vida "regular, plana, comum, tal como ela é na realidade".
   No teatro de Tchekhov a ação é movida pelas pausas, silêncios, mudanças do estado de espírito, ou melhor, pela "corrente submarina", tudo aquilo que cria no espectador a sensação de que ele assiste no palco ao fluxo da vida.
   Nas suas peças existe algo mais importante de que os planos de acontecimento, algo que estabelece a ligação entre o cotidiano da vida humana e a eternidade: o tempo. O dramaturgo irrompe no tempo teatral para abrir a ação dramática à eternidade da vida. Como a importância, por exemplo, das estações do ano para o desenvolvimento da ação de "As Três Irmãs".





  Na tessitura dramática do drama, sempre entrelaçam dois planos - o plano da vida cotidiana e o plano da vida espiritual que Tchekhov considera essencial. Para ele a vida do homem que não é iluminada pela busca da verdade e da beleza, não tem sentido.
   Uma obra de Tchekhov de grande destaque foi "A Gaivota".
  "A Gaivota" é uma metáfora disto mesmo por oposição de Treplev (personagem), o escritor novo, incompreendido e original, a Trigorine, o escritor tradicional, que se movimenta nas correntes artísticas conhecidas e é reconhecido. A desgraça e o desfecho previsivelmente trágico do primeiro face à opulência aparentemente plena da qualidade literária do segundo são mote para uma comédia de costumes, que é no fundo um drama.


   Para além da concepção teatral, há também a oposição entre a representação clássica e um novo método que viria a ser estabelecido pelo Teatro de Arte de Moscou. Arkadina mãe de Treplev, representa um teatro ultrapassado, mas que ainda assim subsiste com sucesso, enquanto Nina é a vontade de representar mal compreendida pelos valores vigentes. Tanto ela como Treplev são ainda sugados pelo ambiente rural que os impede de dar o salto convenientemente.
   Tchekhov é mestre em criar atmosfera do vazio. Nada se passa, nada se pensa, nada se pode nesta vida de província, pequenina, retrógrada, alimentadora do estabelecido que lhe chega da cidade. Ambiente onde cheira a inércia.
   A estréia de "A Gaivota" foi um fiasco, mas no final da temporada, a peça já era um êxito e acabaria por se tornar o emblema do Teatro de Arte de Moscou de Constatin Stanislaviski e companhia.


   Já a obra "O Jardim das Cerejeiras", foi à última peça escrita por Tchekhov que é caracterizada como uma comédia com alguns elementos de farsa.


    A peça conta a história de uma mulher aristocrática da Rússia e sua família e de como após eles retornarem à propriedade da família (que inclui um grande e bem conhecido jardim de cerejeiras) vê-se obrigada a vender a casa para pagar a hipoteca. Embora a peça demonstre como opção salvar a propriedade, a família, essencialmente, não faz nada e a peça termina com a propriedade vendida ao filho de um ex-servo, e com a família ouvindo o som do jardim de cerejeiras ser derrubado.



    Stanisláviski definiu muito bem o sentido essencial da obra do escritor:

"Tchekhov apresenta-se inesgotável, porque, apesar de aparente descrição da vida trivial, em seu leitmotiv (motivo condutor) principal, ou seja, espiritual, ele sempre fala sobre Humano com maiúscula".


(um belo documentário)