quinta-feira, 2 de julho de 2015

Literatura Alemã Pós Guerra

· O Ressurgimento da Literatura e do
 Teatro na Alemanha pós Guerra


     Após a II Guerra Mundial, imperou o realismo socialista na República Democrática Alemã. Na Alemanha Ocidental, os escritores trataram de recuperar os 12 anos de isolamento cultural das tendências modernas.
   A criação de dois Estados alemães após a guerra dividiu também a literatura em duas. Somente em 1990, que a linha divisória começou a desaparecer.
   A produção literária na República Democrática Alemã esteve, desde o início, sob a doutrina do realismo socialista. Principalmente o teatro voltou-se para peças populares, com personagens de bom caráter.


   Os primeiros romances foram dedicados às inúmeras tragédias da guerra.
  Após uma idealização do universo do trabalhador, na década de 60 os escritores foram incentivados a conhecer melhor as indústrias, para produzirem obras mais realistas e superarem a dicotomia entre trabalho manual e intelectual. Por outro lado, tratou-se também de animar os trabalhadores a escrever.


  Christa Wolf é uma a escritora alemã-oriental que ficou famosa com seu livro de discurso pacifista "Cassandra" e foi a primeira tematizar a divisão alemã em "O Céu Dividido".  



(o Céu Dividido)

   Aos poucos, os temas históricos cederam lugar aos que se relacionavam com a própria vida dos autores. Jurek Becker tratou de forma crítica o cotidiano alemão oriental, e a nova subjetividade dos anos 70 refletiu-se na obra lírica de Sarah KirschNo gênero do romance histórico-mítico, destacou-se Stefan Heyn, com "O Relatório Rei Davi" e "Ahasver".

Jurek Becker

Sarah Kirsch

Stefan Heym

   Com suas sátiras políticas, o poeta e compositor Wolf Biermann caiu na mira do Stasi, o poderoso serviço de segurança do Estado. Sua expatriação para a Alemanha Ocidental, em 1976, teve sérias consequências para o cenário literário do país.

Wolf Biermann

Stasi


  Vários escritores seguiram os passos de Biermann e acabaram deixando o país, pressionados de alguma forma pelos órgãos repressivos do Estado, entre eles Reiner Kunze, Rolf Schneider, Erich Loest e Sarah Kirsch. Antes, já havia voltado às costas para o regime comunista Walter Kempowski, cujos diários resultaram nos nove volumes de sua "Crônica Alemã", que só seriam publicados nos anos 80, e Uwe Johnson, autor de "Suposições Sobre Jacó" e obras sobre a divisão alemã.

Reiner Kunze

Erich Loest


   Na literatura na República Federal da Alemanha logo após a guerra, os escritores trataram de encontrar um estilo claro e uma linguagem objetiva, distanciando-se dos exageros da retórica nacional-socialista, com seu estilo propagandístico. Representativo dessa fase é o poema “Inventário”, de Günter Eich. O próprio título marca a tendência de inventariar o que sobrou das cinzas, numa fase conhecida como "hora zero" ou "literatura dos escombros".



   A prosa realista de autores anteriores a 1933, como Arnold Zweig e Lion Feuchtwanger, serviu de orientação à nova geração de escritores, que procurou acertar o passo com as tendências modernas proscritas por 12 anos.



    A vivência da guerra foi um dos principais temas na década de 50. Essa literatura da primeira hora abordou, sob uma perspectiva existencialista, as experiências da Segunda Guerra, o retorno dos prisioneiros e os que a guerra deslocara, destacando-se o drama "Diante da Porta", de Wolfgang Borchert, e "Leviatã", de Arno Schmidt. Nelly Sachs "Nos Apartamentos da Morte" e Paul Celan "Papoula e Memória" tematizaram o horror do Holocausto.




Wolfgang Borchert



   Constituído por escritores e intelectuais, o Grupo 47 foi de grande importância na vida cultural da recém-criada República Federal da Alemanha. Como fórum de discussão literária, de comunicação e reflexão sobre a sociedade.


   Muitos escritores tematizaram o entusiasmo com o milagre econômico da reconstrução como forma de recalcar a responsabilidade pelos horrores da guerra e do nazismo. Entre eles, os suíços Max Frisch "Stiller", "Homo Faber" e Friedrich Dürrenmatt "A Visita da Velha Senhora", "Os Físicos" e Wolfgang Koeppen "A Estufa". Outros preferiram descrever os acontecimentos, sem tentar interpretá-los, como Jürgen Becker "Margens", Dieter Wellershoff "Um Dia Lindo" e Alexander Kluge "Processos de Aprendizagem com Fim Mortal".




Dieter Wellershoff




   A poesia concreta de Max Bense, Helmut Heissenbüttel e Franz Mon rompe com as tradições dos anos 20 e 30, ressaltando os aspectos sonoros e visuais de uma lírica centrada na própria linguagem. Na década de 60 da revolta estudantil e da politização, destaca-se o teatro documental de Rolf Hochhuth e Heinar Kipphardt e o gênero da reportagem política de Günter Wallraff.



Günter Wallraff

 Helmut Heissenbüttel

Max Bense

  Em busca de novas formas literárias dedicaram-se principalmente Hans Magnus Enzensberger "Morte da Literatura" e Peter Weiss, que entrelaçou a reflexão política com a construção biográfica em sua "Estética da Resistência", além de trilhar novos caminhos no teatro com os múltiplos espelhamentos da peça conhecida como “Marat-Sade”. Peça essa, escrita em 1963, ambientada em um asilo francês no auge da Era Napoleônica. A peça recebeu quatro Tony Awards. Incorporando elementos dramáticos característicos de AntoninArtaud (clique aqui para saber mais sobre o Teatro da Crueldade de Artaud) e Bertolt Brecht (clique aqui para saber mais sobre o Teatro de Bretch),  é uma representação sangrenta e implacável da luta de classes e do sofrimento humano, que pergunta se a verdadeira revolução vem para mudar a sociedade ou mudar a si mesmo.

 Hans Magnus Enzensberger


Marat-Sade


   Com a austríaca Ingeborg Bachmann "O Tempo Prolongado", a literatura em língua alemã torna-se intimista e subjetiva. A temática feminista surge nos anos 70, quando também se estabelece o romance histórico ou biográfico "Peter Härtling Hölderlin".
   A Alemanha também é agitada por Rainer Werner Fassbinder e Franz Xaver Kroetz com suas peças teatrais provocantes e muitas vezes obscenas.


Rainer Werner Fassbinder

Franz Xaver Kroetz

   Heiner Müller "Germania, Morte em Berlim" começa a traçar seus burlescos panoramas de época na tradição de Bertolt Brecht e Antonin Artaud e, em 1979, Michael Ende escreve um clássico da literatura infanto-juvenil, "A História sem Fim". Martin Walser destaca-se com seu romance "Um Cavalo em Fuga", que tem como tema a "midlife crisis".


 Heiner Müller



   Já os anos 80 estão sob o signo da reflexão sobre a história da família, enquanto no teatro se destaca Botho Strauss "O Grande e o Pequeno”, "O Quarto e o Tempo".
   Na lírica fazem sucesso Ulla Hahn e Durs Grünbein. Walter Kempowski publica o monumental "Echolog", um diário coletivo, em que reduz seu papel como autor à mera montagem de suas anotações e inúmeros documentos e testemunhos da Segunda Guerra.
(teaser espetáculo - Botho Strauss)





   Merecem ainda menção na literatura alemã das duas últimas décadas do século XX: Patrik Süskind "O Perfume", Ingrid Noll, Uwe Timm, Reiner Kunze, Peter Schneider, Katja Behrens, Sten Nadolny, Thorsten Becker, Doris Dörrie, Arnold Stadler, Friedrich Christian Delius e Ingo Schulze.

   Heinz Konsalik, falecido em 1999, pode ser considerado o escritor alemão de maior sucesso do pós-guerra. O autor de best-sellers, entre eles "O Médico de Estalingrado", escreveu 155 romances traduzidos para 42 línguas.

Heinz G. Konsalik



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