A Tragédia
"Frei Luís de Sousa" de Almeida Garrett e "Álvaro Gonçalves, o Magriço
e os Doze de Inglaterra"de Jacinto Heliodoro de Faria Aguiar de Loureiro, são os representantes do Romantismo Histórico Português:
A história de Almeida Garrett, nascido em 1799, é de
um típico português da primeira metade do século XIX, ou mais explicitamente,
de Portugal da revolução liberal e romântica. É certo afirmar que, sem a
história de Garret, não entenderemos os aspectos essenciais da vida e da
cultura portuguesa do seu tempo.
Lançou-se como escritor de grande público,
com uma obra escandalosa "O Retrato de Vênus" - sempre impôs, na vida
política, social, e intelectual portuguesa. A sua presença atuante, influente é
quase sempre dominante.
Garret acabou por ser o único homem de
Portugal do Romantismo.
A sua presença não foi altamente
significativa apenas em Portugal, chegou aqui no Brasil. A par de entusiásticas
referências às notas brasileiras do "Uruguai", de Basílio de Gama, no
sentindo de que se livrassem dos vínculos com a literatura clássica, de
tradição européia, e realizassem, com a tomada de consciência de sua realidade
americana e nacional, uma literatura que fosse livre e original como a nova
pátria que começavam a construir.
(Um pouco sobre "Uruguai" de Basílio da Gama)
(Selo em homenagem à Basílio da Gama)
Garrett não chegou a escrever sobre o Brasil
uma obra, houve duas tentativas nesse sentido: uma, na altura dos anos de 1830,
a história brasileira "Comuraí"; a outra, é de capítulos do romance
inacabado "Helena", passado na Bahia.
Os brasileiros tinha uma grande
estima pelo Poeta que iniciara a reforma romântica. A reforma romântica da
literatura de língua portuguesa.
Da ampla e poligráfica obra de Garret, já
foram consagradas como pontos mais altos, o poema de "Camões" que sem
dúvida é sabiamente a primeira obra romântica da literatura portuguesa. Visto
na grandeza de seu espírito, de sua inspiração lírica e épica, de seu
patriotismo e de seu pungente drama de exilado que volta à Pátria para sofrer
todas as ingratidões dos contemporâneos e para ver a mesma Pátria morrer em
"apagada e vil tristeza", depois de sua epopéia dos descobrimentos e
conquistas.
Via-se em "Camões"; e pôde dar a
esses sentimentos veemente expressão, porque eram também os sentimentos que o
dominavam, bem como a todos os seus contemporâneos, perseguido e deportados, de
Portugal e de outros países, da Europa e da América, pela luta contra o
absolutismo e despotismo, e pela defesa do liberalismo.
Outras obras suas, oferecem aos leitores
portugueses o seu passado cavalheiresco, místico, marítimo e sentimental,
naquilo que a raça portuguesa possuía de mais profundo e permanente em matéria
de sentimento religioso, heróico e amoroso.
"O Romanceiro", despertou em
Portugal Romântica, o gosto das velhas tradições nacionais e da poesia popular.
"Folhas Caídas", uma das
expressões "mais eloquentes do lirismo moderno", isto é, do lirismo
romântico. Não se escreveram poemas de amor tão intensamente emotivos, lúcidos
na análise de uma paixão tão ricos de experiência sentimental, tão delicados no
retrato dos encantos e seduções femininas e tão belos quanto foi na poesia
romântica portuguesa:
“Este inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n'alma... quem
foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida
destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela
apagar?
Eu não sei, não me lembra: o
passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um
sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim!
despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta
luz!
E os meus olhos, que vagos
giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no
sei;
Mas nessa hora a viver comecei...”
(Almeida Garrett - Folhas Caídas)
"Frei Luís de Sousa", foi o drama
inspirado na tradição de um complicado e doloroso episódio matrimonial vivido,
no fim do século XVI, por Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal,
desaparecido com D. Sebastião em Alcácer-Quibir. Escrito em dois meses na qual
Garrett estava na sua plena maturidade artística, chegando ao completo domínio
de todos os recursos de criação dramática. O drama conquistou sem dificuldade o
público, a crítica nacional e estrangeira.
Os
estudos críticos de "Frei Luís...", são inumeráveis, mas podemos
dirigir em três sentidos. A gênese já aponta as fontes mais diretas e
relevantes da "fábula" e as sugestões que influíram na interpretação
dramática que lhe deu Garrett.
As qualidades, estão na simplicidade do enredo, na
concentração dos efeitos dramáticos, na economia e propriedade dos recursos
expressivos, na verossimilhança e força dos caracteres e no achado de uma
essência trágica, isto é, de uma situação "catastrófica" e, portanto
sem solução, essência essa, intuída em profundidade, e tratada com perfeição.
Quanto à intenção do Autor, não se sabe ao
certo. Teria Garret procurado por em evidencia um exemplo de acrisolado e
perfeito sentimento patriótico, o que era o caso de D. Manuel de Sousa
Coutinho, a resistir, na medida de todas as suas forças, contra a ocupação
espanhola de Portugal? Ou, mais profundamente, teria querido Garrett evidenciar
a dolorosa situação de uma filha ilegítima para os preconceitos de uma
sociedade, em que era o caso da sua filha Maria Adelaide, e também de Maria,
filha de D. Manuel e D. Madalena?
Enfim isso não muda nada, o importante é
saber que "Frei Luís..." se tornou uma das grandes obras da
literatura universal do drama histórico.
(Almeida Garrett por Guglielmi)
Jacinto
Heliodoro de Faria Aguiar de Loureiro, autor também português, com a sua obra "Álvaro
Gonçalves, o Magriço e Os Doze de Inglaterra" é um grande representante
também do drama histórico em Portugal.
Foi o drama escolhido, por concurso público, para a noite de inauguração
do Teatro Nacional de D. Maria II, em 13 de Abril de 1846.
O
enredo narra os regressados da batalha de Aljubarrota e dado o clima de alegria
pela vitória dos portugueses, D. João I reconhece Beatriz, amada por Álvaro
Gonçalves, um valente cavaleiro, sua filha natural. Este reconhecimento tem
como consequência a impossibilidade do casamento de Beatriz e Álvaro, agora que
ela se encontra numa posição social que exige que a escolha de marido se
conforme com os superiores interesses da nação.
Chega, entretanto ao Paço um enviado
da Corte de Inglaterra que necessita de 12 cavaleiros que vão vingar a honra de
12 damas inglesas. Logo surge como candidato Álvaro Gonçalves que, acompanhado
de outros 11 cavaleiros, parte para Inglaterra.
E é já
nesse país, no Paço de Ricardo II, que se vai desenrolar o quarto ato,
assistindo-se a uma luta da qual saem vitoriosos os cavaleiros
portugueses. Ao regressar a Portugal,
Álvaro Gonçalves é informado do aprazado casamento de Beatriz com Arundel,
conde inglês, revoltando-se assim com a situação. Perante uma possibilidade de
raptar Beatriz e ir viver com ela para Castela, Álvaro Gonçalves exibe o seu
caráter de nobre português, preferindo levar uma vida de sofrimento a curvar o
joelho ante os opressores de Portugal.
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