segunda-feira, 16 de junho de 2014

Portugal e o Teatro de Almeida Garrett & Jacinto Heliodoro

A Tragédia "Frei Luís de Sousa" de Almeida Garrett e "Álvaro Gonçalves, o Magriço e os Doze de Inglaterra"de Jacinto Heliodoro de Faria Aguiar de Loureiro, são os representantes do Romantismo Histórico Português:


    A história de Almeida Garrett, nascido em 1799, é de um típico português da primeira metade do século XIX, ou mais explicitamente, de Portugal da revolução liberal e romântica. É certo afirmar que, sem a história de Garret, não entenderemos os aspectos essenciais da vida e da cultura portuguesa do seu tempo.
  Lançou-se como escritor de grande público, com uma obra escandalosa "O Retrato de Vênus" - sempre impôs, na vida política, social, e intelectual portuguesa. A sua presença atuante, influente é quase sempre dominante.
   Garret acabou por ser o único homem de Portugal do Romantismo.
  A sua presença não foi altamente significativa apenas em Portugal, chegou aqui no Brasil. A par de entusiásticas referências às notas brasileiras do "Uruguai", de Basílio de Gama, no sentindo de que se livrassem dos vínculos com a literatura clássica, de tradição européia, e realizassem, com a tomada de consciência de sua realidade americana e nacional, uma literatura que fosse livre e original como a nova pátria que começavam a construir.

(Um pouco sobre "Uruguai" de Basílio da Gama)

(Selo em homenagem à Basílio da Gama)

   Garrett não chegou a escrever sobre o Brasil uma obra, houve duas tentativas nesse sentido: uma, na altura dos anos de 1830, a história brasileira "Comuraí"; a outra, é de capítulos do romance inacabado "Helena", passado na Bahia


   Os brasileiros tinha uma grande estima pelo Poeta que iniciara a reforma romântica. A reforma romântica da literatura de língua portuguesa.
  Da ampla e poligráfica obra de Garret, já foram consagradas como pontos mais altos, o poema de "Camões" que sem dúvida é sabiamente a primeira obra romântica da literatura portuguesa. Visto na grandeza de seu espírito, de sua inspiração lírica e épica, de seu patriotismo e de seu pungente drama de exilado que volta à Pátria para sofrer todas as ingratidões dos contemporâneos e para ver a mesma Pátria morrer em "apagada e vil tristeza", depois de sua epopéia dos descobrimentos e conquistas.
   Via-se em "Camões"; e pôde dar a esses sentimentos veemente expressão, porque eram também os sentimentos que o dominavam, bem como a todos os seus contemporâneos, perseguido e deportados, de Portugal e de outros países, da Europa e da América, pela luta contra o absolutismo e despotismo, e pela defesa do liberalismo.


 Outras obras suas, oferecem aos leitores portugueses o seu passado cavalheiresco, místico, marítimo e sentimental, naquilo que a raça portuguesa possuía de mais profundo e permanente em matéria de sentimento religioso, heróico e amoroso.
  "O Romanceiro", despertou em Portugal Romântica, o gosto das velhas tradições nacionais e da poesia popular.
   "Folhas Caídas", uma das expressões "mais eloquentes do lirismo moderno", isto é, do lirismo romântico. Não se escreveram poemas de amor tão intensamente emotivos, lúcidos na análise de uma paixão tão ricos de experiência sentimental, tão delicados no retrato dos encantos e seduções femininas e tão belos quanto foi na poesia romântica portuguesa:

Este inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

(Almeida Garrett - Folhas Caídas)

   "Frei Luís de Sousa", foi o drama inspirado na tradição de um complicado e doloroso episódio matrimonial vivido, no fim do século XVI, por Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal, desaparecido com D. Sebastião em Alcácer-Quibir. Escrito em dois meses na qual Garrett estava na sua plena maturidade artística, chegando ao completo domínio de todos os recursos de criação dramática. O drama conquistou sem dificuldade o público, a crítica nacional e estrangeira.


   Os estudos críticos de "Frei Luís...", são inumeráveis, mas podemos dirigir em três sentidos. A gênese já aponta as fontes mais diretas e relevantes da "fábula" e as sugestões que influíram na interpretação dramática que lhe deu Garrett. 
   As qualidades, estão na simplicidade do enredo, na concentração dos efeitos dramáticos, na economia e propriedade dos recursos expressivos, na verossimilhança e força dos caracteres e no achado de uma essência trágica, isto é, de uma situação "catastrófica" e, portanto sem solução, essência essa, intuída em profundidade, e tratada com perfeição.


   Quanto à intenção do Autor, não se sabe ao certo. Teria Garret procurado por em evidencia um exemplo de acrisolado e perfeito sentimento patriótico, o que era o caso de D. Manuel de Sousa Coutinho, a resistir, na medida de todas as suas forças, contra a ocupação espanhola de Portugal? Ou, mais profundamente, teria querido Garrett evidenciar a dolorosa situação de uma filha ilegítima para os preconceitos de uma sociedade, em que era o caso da sua filha Maria Adelaide, e também de Maria, filha de D. Manuel e D. Madalena?
   Enfim isso não muda nada, o importante é saber que "Frei Luís..." se tornou uma das grandes obras da literatura universal do drama histórico.

(Almeida Garrett por Guglielmi)

   Jacinto Heliodoro de Faria Aguiar de Loureiro, autor também português, com a sua obra "Álvaro Gonçalves, o Magriço e Os Doze de Inglaterra" é um grande representante também do drama histórico em Portugal.
   Foi o drama escolhido, por concurso público, para a noite de inauguração do Teatro Nacional de D. Maria II, em 13 de Abril de 1846. 


   O enredo narra os regressados da batalha de Aljubarrota e dado o clima de alegria pela vitória dos portugueses, D. João I reconhece Beatriz, amada por Álvaro Gonçalves, um valente cavaleiro, sua filha natural. Este reconhecimento tem como consequência a impossibilidade do casamento de Beatriz e Álvaro, agora que ela se encontra numa posição social que exige que a escolha de marido se conforme com os superiores interesses da nação. 
  Chega, entretanto ao Paço um enviado da Corte de Inglaterra que necessita de 12 cavaleiros que vão vingar a honra de 12 damas inglesas. Logo surge como candidato Álvaro Gonçalves que, acompanhado de outros 11 cavaleiros, parte para Inglaterra.



  E é já nesse país, no Paço de Ricardo II, que se vai desenrolar o quarto ato, assistindo-se a uma luta da qual saem vitoriosos os cavaleiros portugueses.  Ao regressar a Portugal, Álvaro Gonçalves é informado do aprazado casamento de Beatriz com Arundel, conde inglês, revoltando-se assim com a situação. Perante uma possibilidade de raptar Beatriz e ir viver com ela para Castela, Álvaro Gonçalves exibe o seu caráter de nobre português, preferindo levar uma vida de sofrimento a curvar o joelho ante os opressores de Portugal.   

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