A França e a Trilogia de Fígaro
Pierre-Augustin
Caron de Beaumarchais, é o autor francês responsável pelo personagem
de Fígaro, presente na trilogia constituída pelas comédias "O Barbeiro de
Sevilha", "As Bodas de Fígaro", e pelo drama "A Mãe
Culpada". Pierre nasceu em 1732.
Beaumarchais
O seu gênio literário revelou-se nas suas
comédias quando retratou com alguma impertinência, a sociedade do seu tempo.
Comédias que foram depois aproveitadas, respectivamente, por Mozart e Rossini
para criação das óperas " O Barbeiro de Servilha" e "As Bodas de
Fígaro".
Ao lado de Moliére e Marivaux, Beaumarchais é considerado
um dos três grandes comediógrafos da época clássica francesa.
A Mãe Culpada
A trilogia de Fígaro é de tamanho sucesso
que até hoje nos dicionários ocidentais passaram a figurar o termo fígaro como
sinônimo de barbeiro.
No teatro de Beaumarchais, "O Casamento
de Figáro" tem lugar em Sevilha, alguns anos depois dos fatos narrados em
"O Barbeiro de Sevilha", em que o conde de Almaviva tinha conseguido
casar-se com Rosina, graças à astúcia do barbeiro Fígaro. Mas, se em "O
barbeiro..." o amor que triunfava era do conde, em "O casamento"
é o do criado. Não por acaso, esta última comédia transpira uma mentalidade tão
aristocrática quanto a própria Revolução Francesa.
O Barbeiro de Sevilha
A felicidade, porém, dos futuros esposos (Fígaro
e Sussana), está ameaçada porque o conde julga ter "direito de
pernada" sobre a sua criada Sussana e o que explica, de fato, o argumento
é a maneira como o criado conseguem vencer e ridicularizar as pretensões sexuais
do aristocrata. A comédia "O barbeiro..." é considerada uma comédia
de intriga , bem como de uma sátira social ainda tradicionalmente voltada
contra os velhos, os médicos, os literatos e os juízes, embora, Fígaro já
dirija farpas à aristocracia, sobre tudo em suas reflexões sobre relação
patrão-criado. O enredo da ópera satiriza a ordem social francesa rigidamente
estabelecida e em plena decadência no período pré-revolução.
Prólogo - Barbeiro de Sevilha
Já a comédia "O casamento", levou
de 06 a 07 anos para ser apresentada, sendo proibidas até pelo próprio Rei Luis
XVI.
Uma comédia de intriga em que situações
cômicas, disfarces e trocas de pessoas se sucedem em ritmo vertiginoso e
envolvente; uma comédia romanesca, com duas belas e originais histórias de amor
em que o problema não é conquistar o ser amado, mas manter contra seus próprios
impulsos libertinos. Uma comédia psicológica, com pelo menos seis estudos de
caráter profundo e bem delineados. (O conde Almaviva, Fígaro, Sussana,
Cherubino e Marcelina).
Conde Almaviva
Sussana
Cherubino - personagem travestido
Marcelina
Uma bem sucedida comedia-ballet ao gosto
clássico que associando o teatro, canto e dança, que adequa-se, por sinal,
perfeitamente ao interesse contemporâneo pelos espetáculos musicais; quadros de
comicidade caricatural, como particularmente a cena do julgamento que apresenta
em traços farsescos a Justiça da época; e finalmente uma sátira social que
aborda grande parte das questões que estão na ordem do dia às vésperas da Revolução Francesa, não de
maneira acerba e panfletária, mas a partir do riso, os risos dos espectadores.
O "élan vital" triunfa sobre as angústias do tempo, nessa comédia em
que os que estão insatisfeitos com o mundo estão, por outro lado, fundamentalmente
de bem com a vida. E talvez seja essa radical alegria de viver de Beaumarchais
e de suas personagens que faça de "Le Mariage de Fígaro" uma peça
clássica no sentido mais completo do termo, ou seja, contemporânea a todas as
épocas.
Para terminar segue abaixo o ponto de vista
da importância de Beaumarchais para Charles Péguy: escritor francês, fundador de "Cahiers de la Quinzaines" revista de
circulação bimestral na década 1900:
"se eu fosse professor de história da França,
(quer dizer a história), e talvez de história do mundo, eu mandaria meus alunos
lerem La Mère Coupable...Faria com que lessem primeiro as duas comédias; e em
seguida o drama...Nada permitiria melhor medir a diferença de tempo, a
diferença de tom, enfim o que faz propriamente a história e o período e os
incidentes de um povo e do mundo. Gostaria de dar aos meus alunos o gosto,
mesmo, o sabor por assim dizer físico do que era 1775, 1784, 1792: eu os faria
ler simplesmente essas três peças."
Charles Péguy
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