segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Teatro Francês & O Romantismo

A França com a Nova Configuração 
do Romantismo


   A princípio, o Romantismo foi o resultado de toda ânsia de liberdade e igualdade que marcou tanto a Revolução de 1789 quanto à das Comunas, na França. Passou a ser totalmente identificada com o absolutismo e os privilégios da nobreza, e por isso mesmo repudiada.

Revolução de 1789

   Novos protagonistas foram trazidos da Idade Média ou da história "moderna", isto é, a partir da Renascença. Os personagens, com o decorrer do tempo começam a serem oriundos da burguesia, eventualmente, até mesmo do povo; e, mesmo com a preservação do verso alexandrino (doze sílabas), a rígida rima parelha (de dois em dois versos) foi abandonada, para que a linguagem pudesse ter uma sonoridade mais próxima da vida real.
   O teatro francês passou a ser influenciado pelo teatro de outros países, como a Commedia dell´Arte (CLIQUE AQUI para saber mais), Shakespeariano (CLIQUE AQUI para saber mais) e os melodramas espanhóis (CLIQUE AQUI para saber mais), e como consequência do espírito da Revolução. 
   A configuração da nova dramaturgia deveria conter ensinamentos, respeitar os bons princípios e estimular a boa cidadania.


  O fundamental era a liberdade na escolha de temas; como também uma grande preocupação com o ambiente em que se passava à ação. Nos últimos anos do século XVIII apareceu uma peça chamada "O Castelo do Diabo", e também "A Torre de Nesle", um dos maiores sucessos de Alexandre Dumas pai (1802–1870). Um melodrama cheio de coincidências alucinantes, mortes, etc. 
 Existem duas versões para essa história, uma é que foi um escândalo de adultério perpetrado por duas princesas francesasMargarida de Borgonha e Branca de Borgonha, respectivamente esposas dos futuros reis Luís X de França (O Cabeçudo) e Carlos IV de França. A segunda versão é uma lenda do século XV, provavelmente baseada no acontecimento do reinado de Filipe O Belo (O Rei de Ferro), em que uma rainha de França, depois de se deitar com os seus amantes, os lançava ao rio Sena.
   Foi então, que em 1832, Alexandre Dumas e Frédéric Gaillardet exploraram a lenda nesse drama histórico (La Tour de Nesle). Os cinco atos da peça, representavam as orgias e a morte de uma rainha de França do início do século XIV, provavelmente Margarida da Borgonha, contando também com outros personagens Buridan, os irmãos Aunay. 
Alexandre Dumas pai, autor do clássico da literatura, 
"Os Três Mosqueteiros".

   Dois acontecimentos marcaram a transformação no teatro francês: em 1827, Victor Hugo (1802- 1885), novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política no seu país, escreveu "Cromwell", peça tão grande que nunca pode ser montada, mas foi publicada e precedida de um prefácio em que ficam estabelecidos tanto os princípios quanto as características do teatro "novo" ou romântico.



   No ano de 1830, Victor Hugo completa sua tarefa com "Hernani", cuja estréia se deu um escandaloso tumulto devido à confrontação entre tradicionalistas e os novos. “Hernani” representa o fim do classicismo e expressa novas aspirações da juventude. A peça exalta o herói romântico em luta contra a sociedade,  dividindo opiniões, onde agradava os jovens e desagradava os mais velhos, o que desencadeia uma disputa de público que contribui para a consagração de Hugo como líder romântico. 
   A peça obteve grande sucesso, lotando o teatro em todas as suas exibições. A disputa entre opiniões gerada por Hernani obteve proporções além do teatro, apoiadores e opositores, travavam brigas e discussões por toda a França.

Victor Hugo

   Hugo afirma que o drama deveria ser realista e que a realidade era um produto da combinação do grotesco com o sublime, que se entrelaçariam no drama da mesma forma que na vida. Esta teoria influenciaria mais tarde os dramaturgos do "teatro de vanguarda", manifestando-se também, no expressionismo no teatro didático de Bretch.
   As peças de Hugo, e suas idéias sobre o drama românico fizeram que a tragédia clássica, especialmente de Racine, deixasse de ser o modelo supremo da dramaturgia francesa.

   Os tradicionalistas podiam tentar impedir o crescimento dessa nova configuração do Romantismo, mas de nada adiantou; a batalha já estava ganha pelos novos.
   Anterior mesmo ao abalador "Hernani" foi "Henrique III e sua Corte", de Alexandre Dumas pai, que alcançou grande sucesso. Uma peça cheia de emoção, que teve o mérito de haver iniciado o teatro romântico na França, levado à cena pela primeira vez, na Comédie Française, em 1829. Hoje em dia a peça é conhecida apenas pela versão operística de Verdi (1813- 1901), "O Rigoletto". A ópera, no entanto desvia ligeiramente da peça, devido à censura imposta. A personagem do Duque era inicialmente o Rei, e algumas partes do texto teve de ser alterado devido ao conteúdo político.

Verdi


  A ópera, no entanto desvia ligeiramente da peça, devido à censura imposta. A personagem do Duque era inicialmente o Rei, e algumas partes do texto teve de ser alterado devido ao conteúdo político.
   O romantismo lírico e puro não conseguiu durar muito tempo, porque o gosto do público pelos exageros levou a uma série de obras cheias de mortes, fantasmas, correntes que se arrastam durante a noite, masmorras medievais e coisas do gênero.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Teatro Francês Com Fígaro

A França e a Trilogia de Fígaro

  Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, é o autor francês responsável pelo personagem de Fígaro, presente na trilogia constituída pelas comédias "O Barbeiro de Sevilha", "As Bodas de Fígaro", e pelo drama "A Mãe Culpada". Pierre nasceu em 1732.

 Beaumarchais

 O seu gênio literário revelou-se nas suas comédias quando retratou com alguma impertinência, a sociedade do seu tempo. Comédias que foram depois aproveitadas, respectivamente, por Mozart e Rossini para criação das óperas " O Barbeiro de Servilha" e "As Bodas de Fígaro".




  Ao lado de Moliére e Marivaux, Beaumarchais é considerado um dos três grandes comediógrafos da época clássica francesa.

A Mãe Culpada

  A trilogia de Fígaro é de tamanho sucesso que até hoje nos dicionários ocidentais passaram a figurar o termo fígaro como sinônimo de barbeiro.
  No teatro de Beaumarchais, "O Casamento de Figáro" tem lugar em Sevilha, alguns anos depois dos fatos narrados em "O Barbeiro de Sevilha", em que o conde de Almaviva tinha conseguido casar-se com Rosina, graças à astúcia do barbeiro Fígaro. Mas, se em "O barbeiro..." o amor que triunfava era do conde, em "O casamento" é o do criado. Não por acaso, esta última comédia transpira uma mentalidade tão aristocrática quanto a própria Revolução Francesa.


O Barbeiro de Sevilha


   A felicidade, porém, dos futuros esposos (Fígaro e Sussana), está ameaçada porque o conde julga ter "direito de pernada" sobre a sua criada Sussana e o que explica, de fato, o argumento é a maneira como o criado conseguem vencer e ridicularizar as pretensões sexuais do aristocrata. A comédia "O barbeiro..." é considerada uma comédia de intriga , bem como de uma sátira social ainda tradicionalmente voltada contra os velhos, os médicos, os literatos e os juízes, embora, Fígaro já dirija farpas à aristocracia, sobre tudo em suas reflexões sobre relação patrão-criado. O enredo da ópera satiriza a ordem social francesa rigidamente estabelecida e em plena decadência no período pré-revolução.

Prólogo - Barbeiro de Sevilha


  Já a comédia "O casamento", levou de 06 a 07 anos para ser apresentada, sendo proibidas até pelo próprio Rei Luis XVI.
  Uma comédia de intriga em que situações cômicas, disfarces e trocas de pessoas se sucedem em ritmo vertiginoso e envolvente; uma comédia romanesca, com duas belas e originais histórias de amor em que o problema não é conquistar o ser amado, mas manter contra seus próprios impulsos libertinos. Uma comédia psicológica, com pelo menos seis estudos de caráter profundo e bem delineados. (O conde Almaviva, Fígaro, Sussana, Cherubino e Marcelina).

Conde Almaviva

Sussana

Cherubino - personagem travestido

Marcelina

   Uma bem sucedida comedia-ballet ao gosto clássico que associando o teatro, canto e dança, que adequa-se, por sinal, perfeitamente ao interesse contemporâneo pelos espetáculos musicais; quadros de comicidade caricatural, como particularmente a cena do julgamento que apresenta em traços farsescos a Justiça da época; e finalmente uma sátira social que aborda grande parte das questões que estão na ordem do dia às vésperas da Revolução Francesa, não de maneira acerba e panfletária, mas a partir do riso, os risos dos espectadores. 


  O "élan vital" triunfa sobre as angústias do tempo, nessa comédia em que os que estão insatisfeitos com o mundo estão, por outro lado, fundamentalmente de bem com a vida. E talvez seja essa radical alegria de viver de Beaumarchais e de suas personagens que faça de "Le Mariage de Fígaro" uma peça clássica no sentido mais completo do termo, ou seja, contemporânea a todas as épocas.

   Para terminar segue abaixo o ponto de vista da importância de Beaumarchais para Charles Péguy: escritor francês, fundador de "Cahiers de la Quinzaines" revista de circulação bimestral na década 1900:

"se eu fosse professor de história da França, (quer dizer a história), e talvez de história do mundo, eu mandaria meus alunos lerem La Mère Coupable...Faria com que lessem primeiro as duas comédias; e em seguida o drama...Nada permitiria melhor medir a diferença de tempo, a diferença de tom, enfim o que faz propriamente a história e o período e os incidentes de um povo e do mundo. Gostaria de dar aos meus alunos o gosto, mesmo, o sabor por assim dizer físico do que era 1775, 1784, 1792: eu os faria ler simplesmente essas três peças."

Charles Péguy

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O Teatro Alemão de Friendrich Schiller

 O Teatro Alemão dá Suas Caras ao 
Mundo da Corte Européia



Desde o começo se afirmava que Schiller fazia jus às mais lindas esperanças:

  "Se um dia esperamos ter um Shakespeare alemão, então é este aqui"insinuado Friendrich Schiller, filósofo, poeta, dramaturgo e defensor da liberdade alemão. 

"O grande escritor genial” (disse o poeta Hölderlin)

"A cabeça mais fértil de idéias que já existiu” (Wilhelm von Humboldt)

"O homem do verdadeiro, bom e belo” (Goethe)

"A apoteose da arte” (Thomas Mann) 


   A força dessa tal liberdade defendida por Friendrich se transformou na obra "Os Bandoleiros", que abriu caminho para fama dele. Começou escrevê-la entre 18 e 19 anos e estreou em 1782. Foi o nascimento de um rebelde, cuja a revolta contra "o pesado açoite de despotismo" entusiasmou seus jovens contemporâneos tanto quanto as suas baladas e versos dramáticos.
  Sua terceira peça expõe a hipocrisia, a exploração, a má administração e outras desorganizações morais da corte. Resumindo, foi um outro sucesso teatral "Intriga e Amor", tragédia burguesa em cinco atos, estreada em 1784.
  Apesar da valentia de Friendrich, ele também respeitava e amava o sentimento profundo da natureza do amor.
  Schiller se dedicou também com muito sucesso, ao conto, como por exemplo: "Assassino pela Honra Perdida" e "O Visionário".
 Uma peça chamada "Wallestein", foi escrito em três partes, reapresentadas respectivamente em três noites. Nos últimos anos da sua vida, deu tempo de escrever "A Donzela de Orleans" em 1801 e "A Noiva de Messina" em 1803 porém, não muito apreciada pelo público.
  Mesmo assim, o seu último trunfo dramático foi a peça "Wilhelm Tell",  um circo teatral originado da grandiosa lenda suíça sobre um tiro de ouro ("sendo que o prêmio, a liberdade, não é pago") de 1804. Nesse circo, Schiller retorna ao começo da sua criatividade: "Não! O poder do tirano tem um limite!”.
  Outras peças como "Demetrius", apenas ficou em fragmentos.
 O foco da liberdade de Friendrich em suas obras encontram surpreendentes idéias políticas, questões e esperanças. Schiller faleceu, em 1805.

  No seu discurso inaugural como professor, ele demonstrou ter um otimismo histórico antecipado: 

“A sociedade européia de Estados parece 
ter-se transformado numa grande família. 
Os vizinhos podem se tornar inimigos, mas 
não podem mais se dilacerar."

Friendrich Schiller

domingo, 4 de maio de 2014

A Comédia de Costumes

A Volta do Teatro Inglês com John Gay 
e a Comédia de Costumes

John Gay

    John Gay (1685-1732) viveu numa época em que a Inglaterra não produzia grandes obras teatrais, já que a "Era Shakesperiana" evaporou e os teatros foram fechados pelos puritanos. Gay salientou-se pela criação da "Ópera dos Mendigos".
  Era inicio do século XVII e a sociedade inglesa sofria com problemas de desemprego, corrupção, violência vivendo num período forte da censura.
   Ele escreveu vários poemas e peças, seu estilo neoclássico deu força para suas farsas e comédias. O seu primeiro poema foi intitulado "Wine". O seu triunfo porém, foi com a peça "The What D´ye Call It". Uma tragicomédia  pastoral, com mistura de diversos gêneros dramáticos, com músicas familiares do público, vinda de baladas populares e do folclore britânico.
   Mas, foi com a "Ópera dos Mendigos" que a nova etapa do teatro da Rainha destacou-se. Apresentando uma ópera satírica, aonde um presídio era cenário, com personagens contraventores e a sugestão de que os crimes e os vícios estão em todas as classes sociais. Essa ópera, sugeria a ideia de que as leis e a ética não passavam de limitações arbitrárias.
  A partir dela nasceu a nomenclatura "Ballad Opera" (óperas cômicas com canções folclóricas e populares inglesas com palavras novas intercalados com diálogos falados). Assim, até hoje, a "Ópera dos Mendigos" é considerada a obra mais importante de Gay.

inglês 
(mas, vale assistir pelas canções)

  Outro estilo que trouxe novamente o poder do teatro dos ingleses, foi a Comédia de Costumes, que refletia costumes, ideias e sentimentos de uma determinada sociedade, classe ou profissão.
  Quem deu o ponta-pé inicial foi Richard Sheridan dramaturgo irlandês e político. Duas peças foram consagradas "A Escola do Escândalo" e "Os Rivais", depois no final ele acabou se envolvendo de vez com a política em defesa de um governo mais leal e o honesto.

Richard Sheridan

   No Brasil em 2011 "A Escola do Escândalo" ficou em cartaz no Teatro Raul Cortez na cidade de São Paulo, dirigido por Miguel Falabella. A obra contou com um belo elenco: Maria Padilha, Jacquelina Laurence, Tonico Pereiro, Bruno Garcia, Cristina Mutarelli, Rita Elmôr, Marcelo Escorel, Chico Tenreiro, Bianca Comparato e Armando Babaioff.
   Veja abaixo alguns trechos:





   "Os Rivais", na primeira vez foi vaiado pelo público e a crítica caiu encima pela característica obscena do personagem de Sir. O´Trigger Lucius, sendo um papel escrito mesquinhamente muito mal. Sheridan imediatamente retirou a peça de circulação e durante 11 dias reescreveu o original. Pediu desculpas por qualquer impressão de que O´Trigger foi concebido como um insulto para a Irlanda. Hoje a peça é uma das maiores obras mundiais.
  A obra ocorre em Bath no século XVIII, uma cidade lendária para consumo conspícuo e da moda da época. Ricos, pessoas da moda iam para lá "tomar as águas" que acreditavam ter propriedades curativas. Bath foi muito menos exclusivo do que Londres oferecendo um ambiente ideal para as personagens.
   O enredo gira em torno de dois jovens amantes, Lydia e Jack, um amor puramente romântico. Usou esse tema, porque satirizava os dramas românticos da época.
   A peça foi tão aclamada que houve a produção musical de sucesso de "Os Rivais" com canções de Hebert Hughes e letras de John Robert Monsell encenado por Vladimir Rosin em 1935.

(inglês)

  Outro representante da comédia de costumes, foi o escritor irlandês Oliver Goldsmith. Dono de um estilo muito pessoal, evidenciando pelo cuidado aos personagens cheios de ironia e malícia. Criava uma auréola de personagens excêntricas. 
   Publicou num jornal da época, uma série de ensaios famosos sobre os costumes ingleses, reunidos depois sob o título de "The Citizen Of The World".


   A primeira incursão no domínio do drama ocorreu com a comédia "The Goode Natur´d Man", uma história cômica de filantropia equivocada, identidades trocadas, e de romance secreto.
   Nessa toada, seguiu "She Stoops To Conquer" que narra a história de Kate Hardcastle que se apresenta como uma garçonete na esperança do seu pretendente encantado, Charles Marlow. À medida que a trama começa a desenrolar, o elenco de personagens que habitam a propriedade aprender algumas lições hilariantes sobre a verdadeira natureza do amor.

(inglês)

   A composição em verso mais famosa de Oliver Goldsmith foi "The Deserted Village". O poema abre com uma descrição de um vilarejo chamado Auburn, escrito no tempo passado. Assim, ele inaugurou uma tradição literária que conduziria aos temas sociais da literatura atual.

Oliver Goldsmith