· O Ressurgimento da Literatura e do
Teatro na Alemanha pós Guerra
Após a II
Guerra Mundial, imperou o realismo socialista na República Democrática Alemã.
Na Alemanha Ocidental, os escritores trataram de recuperar os 12 anos de
isolamento cultural das tendências modernas.
A
criação de dois Estados alemães após a guerra dividiu também a literatura em
duas. Somente em 1990, que a linha divisória começou a desaparecer.
A
produção literária na República Democrática Alemã esteve, desde o início, sob a doutrina do realismo socialista.
Principalmente o teatro voltou-se para peças populares, com personagens de bom
caráter.
Os
primeiros romances foram dedicados às inúmeras tragédias da guerra.
Após
uma idealização do universo do trabalhador, na década de 60 os escritores foram
incentivados a conhecer melhor as indústrias, para produzirem obras mais
realistas e superarem a dicotomia entre trabalho manual e intelectual. Por
outro lado, tratou-se também de animar os trabalhadores a escrever.
Christa Wolf é uma a escritora alemã-oriental que ficou famosa com seu
livro de discurso pacifista "Cassandra" e foi a primeira tematizar a
divisão alemã em "O Céu
Dividido".
(o Céu Dividido)
Aos
poucos, os temas históricos cederam lugar aos que se relacionavam com a própria
vida dos autores. Jurek Becker tratou de forma crítica o cotidiano alemão
oriental, e a nova subjetividade dos anos 70 refletiu-se na obra lírica de
Sarah Kirsch. No gênero do romance histórico-mítico, destacou-se Stefan Heyn,
com "O Relatório Rei Davi"
e "Ahasver".
Jurek Becker
Sarah Kirsch
Stefan Heym
Com
suas sátiras políticas, o poeta e compositor Wolf Biermann caiu na mira do Stasi,
o poderoso serviço de segurança do Estado. Sua expatriação para a Alemanha
Ocidental, em 1976, teve sérias consequências para o cenário literário do país.
Wolf Biermann
Stasi
Vários
escritores seguiram os passos de Biermann e acabaram deixando o país,
pressionados de alguma forma pelos órgãos repressivos do Estado, entre eles
Reiner Kunze, Rolf Schneider, Erich Loest e Sarah Kirsch. Antes, já havia
voltado às costas para o regime comunista Walter Kempowski, cujos diários
resultaram nos nove volumes de sua "Crônica
Alemã", que só seriam publicados nos anos 80, e Uwe Johnson,
autor de "Suposições Sobre Jacó"
e obras sobre a divisão alemã.
Reiner Kunze
Erich Loest
Na literatura na República
Federal da Alemanha logo após a guerra, os escritores trataram de
encontrar um estilo claro e uma linguagem objetiva, distanciando-se dos
exageros da retórica nacional-socialista, com seu estilo propagandístico.
Representativo dessa fase é o poema “Inventário”,
de Günter Eich. O próprio título marca a tendência de inventariar o que sobrou
das cinzas, numa fase conhecida como "hora zero" ou "literatura
dos escombros".
A
prosa realista de autores anteriores a 1933, como Arnold Zweig e Lion
Feuchtwanger, serviu de orientação à nova geração de escritores, que procurou
acertar o passo com as tendências modernas proscritas por 12 anos.
A vivência da guerra foi um dos principais temas na década de 50. Essa literatura
da primeira hora abordou, sob uma perspectiva existencialista, as experiências
da Segunda Guerra, o retorno dos prisioneiros e os que a guerra deslocara,
destacando-se o drama "Diante da
Porta", de Wolfgang Borchert, e "Leviatã", de Arno Schmidt.
Nelly Sachs "Nos Apartamentos da
Morte" e Paul Celan "Papoula
e Memória"
tematizaram o horror do Holocausto.
Wolfgang Borchert
Constituído por escritores e intelectuais, o Grupo 47 foi de grande
importância na vida cultural da recém-criada República Federal da Alemanha.
Como fórum de discussão literária, de comunicação e reflexão sobre a sociedade.
Muitos
escritores tematizaram o entusiasmo com o milagre econômico da reconstrução
como forma de recalcar a responsabilidade pelos horrores da guerra e do
nazismo. Entre eles, os suíços Max Frisch "Stiller", "Homo Faber" e Friedrich Dürrenmatt "A Visita da Velha Senhora", "Os Físicos" e Wolfgang Koeppen
"A Estufa". Outros
preferiram descrever os acontecimentos, sem tentar interpretá-los, como Jürgen
Becker "Margens",
Dieter Wellershoff "Um Dia
Lindo" e Alexander Kluge "Processos de Aprendizagem com Fim Mortal".
Dieter Wellershoff
A poesia concreta de Max Bense, Helmut
Heissenbüttel e Franz Mon rompe com as tradições dos anos 20 e 30, ressaltando
os aspectos sonoros e visuais de uma lírica centrada na própria linguagem. Na
década de 60 da revolta estudantil e da politização, destaca-se o teatro
documental de Rolf Hochhuth e Heinar Kipphardt e o gênero da reportagem
política de Günter Wallraff.
Günter Wallraff
Helmut Heissenbüttel
Max Bense
Em busca de novas formas literárias
dedicaram-se principalmente Hans Magnus Enzensberger "Morte
da Literatura" e Peter Weiss, que entrelaçou a reflexão
política com a construção biográfica em sua "Estética da Resistência",
além de trilhar novos caminhos no teatro com os múltiplos espelhamentos da peça
conhecida como “Marat-Sade”.
Peça essa, escrita em 1963, ambientada em
um asilo francês no
auge da Era Napoleônica. A peça recebeu quatro Tony Awards.
Incorporando elementos dramáticos característicos de AntoninArtaud (clique aqui para saber mais sobre o Teatro da Crueldade de Artaud) e Bertolt
Brecht (clique aqui para saber mais sobre o Teatro de Bretch), é uma representação sangrenta e implacável da luta de
classes e do sofrimento humano, que pergunta se a verdadeira revolução vem para
mudar a sociedade ou mudar a si mesmo.
Hans Magnus Enzensberger
Marat-Sade
Com a
austríaca Ingeborg Bachmann "O
Tempo Prolongado", a literatura em língua alemã torna-se
intimista e subjetiva. A temática feminista surge nos anos 70, quando também se
estabelece o romance histórico ou biográfico "Peter Härtling Hölderlin".
A
Alemanha também é agitada por Rainer Werner Fassbinder e Franz Xaver Kroetz com
suas peças teatrais provocantes e muitas vezes obscenas.
Rainer Werner Fassbinder
Franz Xaver Kroetz
Heiner
Müller "Germania, Morte em Berlim" começa a
traçar seus burlescos panoramas de época na tradição de Bertolt Brecht e
Antonin Artaud e, em 1979, Michael Ende escreve um clássico da literatura
infanto-juvenil, "A História sem
Fim". Martin Walser destaca-se com seu romance "Um Cavalo em Fuga", que tem
como tema a "midlife crisis".
Heiner Müller
Já os
anos 80 estão sob o signo da reflexão sobre a história da família, enquanto no
teatro se destaca Botho Strauss "O
Grande e o Pequeno”, "O
Quarto e o Tempo".
Na
lírica fazem sucesso Ulla Hahn e Durs Grünbein. Walter Kempowski publica o
monumental "Echolog", um diário
coletivo, em que reduz seu papel como autor à mera montagem de suas
anotações e inúmeros documentos e testemunhos da Segunda Guerra.
(teaser espetáculo - Botho Strauss)
Merecem ainda menção na literatura alemã das duas últimas décadas do
século XX: Patrik Süskind "O
Perfume", Ingrid Noll, Uwe Timm, Reiner Kunze, Peter
Schneider, Katja Behrens, Sten Nadolny, Thorsten Becker, Doris Dörrie, Arnold
Stadler, Friedrich Christian Delius e Ingo Schulze.
Heinz
Konsalik, falecido em 1999, pode ser considerado o escritor alemão de maior
sucesso do pós-guerra. O autor de best-sellers, entre eles "O Médico de Estalingrado",
escreveu 155 romances traduzidos para 42 línguas.
Heinz G. Konsalik